segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O GORDO DAS DROGAS - capítulos III e IV

Por conta de coisas como estas é que me afastei dele.
Mas não dá para negar que havia coisas interessantes.
Uma vez, eu estava no Rio de Janeiro passando umas férias quando dei de cara com o GORDO. Conversamos um pouco num daqueles botecos típicos do Rio e falei en passant que domingo tinha Vasco e Flamengo no Maracanã e que um dos meus sonhos era assistir um jogo destes, com o estádio lotado. Ele prontamente disse.
-Então vamos.
Expliquei que não estava a fim de ficar socado lá no meio da turba.
-Não tem problema, vamos de cadeira.
-Pô GORDO, o preço lá é de ópera!
-Deixa comigo!
No domingo, nos encontramos, pegamos um ônibus e nos tocamos para o Maraca. Chegando lá ele me manda comprar o ingresso mais barato que tinha. Quando eu ia protestar ele me larga o seu tradicional –Deixa comigo! –Ah! E me compra o meu também.
Comprei os tais ingressos e ele me leva para a fila das cadeiras. Me manda pegar duas notas, do que seriam hoje 20 reais, e dobrar junto aos ingressos. Pega um para ele e deixa o outro para mim. E explica!
-Agora fica atrás de mim. Quando for passar pelo porteiro entrega o ingresso e já vai entrando.
Borrado de medo fiz o que ele mandou. Não teve problema. Dez minutos depois estávamos aboletados nas cadeiras.
Perguntei para ele se ele sabia que aquele porteiro aceitava suborno.
-Não, claro que não! Mas 20 mangos é o que ele deve ganhar por dia de trabalho. Tu acha que ele ia recusar quarentinha assim na moleza?
E assim ele ia levando a vida. Mesmo coisas como esta, que na hora empolgavam, mas depois incomodavam, não impediram que eu fosse me afastando, mas a lembrança nunca deixou de ser agradável.
Quatro anos depois soube que ele havia falecido. Estava numa festinha de criança (Havia casado e tido um filho.), disse que não se sentia muito bem, foi para o banheiro e de lá saiu para o São Miguel e Almas.
Se alguém hoje me perguntasse o que eu achava dele, e da minha relação com ele, eu diria que a memória dele ainda é uma coisa muito polêmica dentro de mim.
Mas não posso negar que ele me mostrou muita coisa da vida que eu só sabia de teoria, ou não sabia dos detalhes, principalmente os mais sórdidos.


FIM

Um comentário:

Maroto disse...

é importante conhecer gente assim, entrar em contato com o mundo. O outro mundo esse, que ainda tem quem tente romantizar. Mas quando eu penso que o meu filho vai precisar ter experiências como as que narras aqui, meu coração gela.
Mãe é um bicho burro mesmo.