quinta-feira, 28 de junho de 2007

O ATRASO DOS AVIÕES


Primeiro se disse que o problema é que se tinham poucos controladores de vôo para muitos aviões no ar.
Que se demoravam 4 anos para treinar um controlador e em torno de 6 meses para adaptar um controlador de vôo estrangeiro para trabalhar aqui.

Depois se falou que, além do problema supra citado, os equipamentos estavam sucateados, ou necessitando de manutenção.

Agora subitamente a Aeronáutica dá um quedate quieto nos controladores e as coisas entram nos eixos.

Pergunto-me e pergunto-vos.
Faltam ou não controladores de vôo? Se faltam, então, de novo, temos muitos aviões para poucos controladores.
Se não faltam, porque deixaram a crise se prolongar por tanto tempo?
Se os equipamentos estavam mal, subitamente foram concertados?
Ou os equipamentos nunca estiveram mal?

Dá ou não dá para subir num avião em segurança?

E, finalmente, a grande pergunta.
Quem ganhou com esta esbórnia toda? Sim, porque ninguém vai me dizer que numa crise grande, e longa, alguém não faturou alto. Ou me mudaram de país e não me avisaram?

domingo, 24 de junho de 2007

VAMOS TIRAR O SOFÁ DA SALA


Todo mundo conhece a história do marido que pegou a mulher transando com o vizinho no sofá da sala e tomou uma decisão drástica.
Vendeu o sofá para resolver o problema.
Isto me ocorre quando leio no jornal que os funcionários da EPTC não queriam abordar os motoristas que buzinavam madrugada adentro na noite que antecedeu ao jogo do Boca, “para evitar mais confusão”.
Ou quanto a tomar providências a respeito da venda de bebidas alcoólicas para menores de idade ao redor dos estádios de futebol. Era difícil de fiscalizar e podiam ser criadas situações de tensão. Era melhor deixar tudo como estava.
Isto para não se falar na questão do comércio ambulante.
Agora, com o aumento da violência nos campos de futebol os nossos gênios já encontraram a solução. Nada de prender baderneiros, julga-los, condena-los, fiscalizar a pena. Muito mais fácil é evitar que pessoas se envolvam em conflitos. Para isto diminui-se o número de torcedores visitantes. Ou simplesmente proíbe-se que eles assistam ao jogo. Como já acontece no clássico Boca Jr. X River Plate.
Qualquer dia destes não vamos sair mais de casa. Telefone, internet, tele-entregas resolverão as nossas necessidades. Não porque isto seja bom. Mas porque será perigoso sair.
Enfim, deixemos tudo como está porque temos medo de enfrentar a violência. Vamos vender os sofás.

NÓS, OS GAÚCHOS


Bueno, antes que comecem a me jogar bosta de vaca na cabeça, pelo que vou escrever, quero esclarecer algumas coisas.
Sou gaúcho, mas não sou de andar pilchado na cidade, com lenço colorado ao pescoço (Por onde andam os Chimangos e Pica-paus com seus lenços brancos e que sempre cagaram a pau os de lenço vermelho? Não é provocação, é só ler a História.)
Gosto da nossa terra, mas não a acho perfeita. Perfeita é só a mãe da gente. E olhe lá. Me dou o direito de criticar sem que isto signifique menosprezo. Assim como me incomodo quando me criticam, mas nem por isto deixo de pensar que o outro pode ter razão.
É bem verdade que, por dentro, raramente dou razão para os outros. Mas nem por isto me sinto ofendido, querendo cortar o cumprimento.
Bom, feito o prolegômeno, o lero-lero inicial, vamos ao que interessa.
Quarta-feira passada o Imortal Tricolor e D. Esperança Tricolor passaram desta para a melhor (?). Até aí nada demais, no futebol se ganha, se perde ou se empata. O que me chamou a atenção foi o foguetório e vibração a cada gol do Boca. Duvido que em alguma cidade do interior da Argentina tenha havido manifestação deste nível.
Por outro lado, na televisão, e depois no rádio, ouvi alguns políticos falarem “da nossa tradição política”, de que “somos o estado mais politizado deste país” e outras loas mais.
Fico então a me perguntar. De onde tiraram esta idéia?
Que eu saiba somos o estado mais maniqueísta de todos. Ou se é Colorado, ou se é Gremista. Ou se é PT ou se é anti PT.
Como no passado se era PTB, ou anti PTB. Chimango ou Maragato. Castilhista, ou Federalista. Ou Farrapo, ou Imperial. Ou Gringo, ou Pêlo Duro. Nunca houve terceiras e quartas forças. Ou, se as houveram, sempre foram muito mais para acomodar facções e interesses pessoais do que qualquer outra coisa.
Era A contra B e alguns figurantes. Que só figuravam.
Tristes figuras de arrabalde à espera de algumas migalhas dos verdadeiros donos do poder.
Este fervor religioso fanatizado, esta divisão entre nós e eles, entre certos e errados, que nós muitas vezes cultuamos como um atributo meritório, nada mais é do que uma expressão de uma cultura pobre.
Nossa democracia é muito parecida com aquela exibida na hora da degola. “Prefere el corte pela frente o por detrás”.
Depois, quando se fala em gaúcho é como se falasse que todos os aqui nascidos são iguais. Ou, não tendo uma determinada característica, que por alguém, ou um grupo, tenha sido denominada como típica, passa-se a ser “um não gaúcho”. “Mas que gaúcho de merda é este que nem a cavalo sabe andar!”
Mas, maniqueísmo e exclusão nunca foram sinais de politização. Pelo contrário. O são de indigência sócio-política.
Infelizmente, os nossos índices de alfabetização, e qualidade educacional, não representam, necessariamente, qualificação política, pelo menos é o que a História tem mostrado.
Júlio de Castilhos e seu positivismo que, durante 35 anos, açambarcaram o poder aqui no Rio Grande do Sul, nos ensinaram a “ditadura esclarecida”. Durante 15 anos Getúlio foi ditador com grande apoio popular. Costa e Silva, Médici e Geisel ajudaram a manter a “Redentora” que duraria 24 anos. E com níveis de popularidade respeitáveis, para desgosto da oposição.
Hoje vivemos num estado em crise econômica, que vem decaindo em importância em relação aos outros estados. Nossa importância política já foi bem maior. Fala-se em reviver valores tradicionais, como se o mundo não houvesse evoluído. Apegamo-nos a vitoriosos individuais, esquecendo que o coletivo vem decaindo.
Mas, se não dermos atenção às nossas limitações, se não cuidarmos em mudar, evoluir, em vez de ficarmos idealizando um passado que não foi tão ideal assim; se não abrirmos mão deste maniqueísmo que cultivamos com tanto orgulho; duvido que possamos voltar a crescer, como necessitamos, para sair do atoleiro onde nos encontramos.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

É NORMAL

Lendo os nossos jornais a respeito das violências que ocorreram antes, durante e depois do jogo Boca x Grêmio, se tem a idéia de que tudo foi normal.
Isto me lembra uma história que me contaram a respeito de um jogo em Bagé. O clássico Bá-Gua (Grêmio Bagé x Guarani de Bagé).
Este clássico era famoso pelas brigas e violência.
Pois bem, numa das partidas houveram brigas do início ao fim. Ao longo do jogo foram feitos mais de 100 disparos de arma de fogo, se bem que ninguém morresse ou saísse ferido gravemente.
Dois ou três dias depois chega a Porto Alegre a súmula do jogo, que relata que o jogo decorrera normalmente.
O presidente da Federação Gaúcha de Futebol, que pela imprensa soubera dos incidentes, telefona para Bagé para saber como era isto. Jogo normal com mais de 100 tiros?
A resposta foi taxativa.
-Dr! Aqui em Bagé, um Bá-Gua com brigas e 100 tiros é um jogo normal.
E foi encerrrado o assunto.

Os Jovens

O comentário de Sean, no meu artigo sobre o fanatismo me parece extremamente pertinente. Vale a pena ser lido. Se realmente corresponder a verdade vai responder muita coisa.

MANIFESTO MASCULINO


Se existem tantos Manifestos à Nação, se Marx escreveu o Manifesto Comunista, porque não poderia eu escrever um Manifesto? Mas para vos tranqüilizar prometo que tentarei que este não será hipócrito como os primeiros e tampouco longo e enfadonho como o segundo
Senhores, há anos vejo crescerem as manifestações femininas reivindicando mais espaço, reclamando que temos direitos demais, que o nosso egoísmo as impede de crescerem, de terem mais espaço para as suas almas, para a sua sexualidade.
Confesso que elas têm razão, e muita, durante séculos nos prevalecemos a ponto de transforma-las em simples objetos de nossa propriedade. Com exceção das prostitutas negamo-las os mais mínimos direitos a respeito de sua sexualidade. Ou temos medo dela.
Com sociedade industrial, com a mecanização que passou a exigir menos força física, com as guerras, com as necessidades crescentes de mão de obra, as mulheres começaram a ocupar espaços que os homens não conseguiam mais preencher.
Com isto surgiu um poder econômico feminino que praticamente nunca existiu. E este poder vêm lhes proporcionando o direito de reivindicar o que antes seria inconcebível. E devo dizer, que do meu ponto de vista, nada mais justo.
O problema, para mim, é que nós nos encolhemos demais (Sei que estou generalizando, que cada caso é um caso, que têm alguns casais que ainda vivem na Idade das Trevas, e outros tentam viver uma utopia.). Nos comportamos como numa competição que tem ganhadores e perdedores e não, como eu acho que deveria ser, em um sistema em que um precisa entender que não é melhor, nem pior, que o outro. Apenas diferente.
Vejo como a grande defesa do macherio o não se comprometer. Quer apenas o filé, esquecendo-se que o bovino tem carne de primeira, de segunda, carne de pescoço, de garrão. Não se comprometendo acabam por perder o primeiro e se esquecem que os segundos, bem preparados, viram acepipes de primeira.
Como são poucas as mulheres dispostas a só dar o filet mignon, o tempo das Amélias, se não findou, está nos seus estertores.
Com isto, o que ocorre: A maioria dos homens não consegue alcançar tudo de bom que as fêmeas têm a oferecer.
Nós homens ainda não aprendemos a criar uma lei de reciprocidades. Se uma mulher não quer transar, ela não quer transar. Nós não nos permitimos não ter vontade de transar. Resultado, brochadas, trepadas meia boca, cansaço em transar com determinadas mulheres.
Se nós não gostamos de ir ao Shopping, dar uma olhadinha, vamos de arrasto que nem gato pra banho. Se a mulher não gosta de ir ao futebol ela simplesmente não vai.
Nós achamos normal termos relações extra conjugais. Mas Deusnosacuda se a nossa mulher transar com alguém. Resultado, os que não aprendem a lidar com esta possibilidade acabam virando paranóicos antes que tal aconteça, ou desmoralizados e frustrados porque ocorreu.
Aceitamos que nas separações a lei, sub-repticiamente, permita que os filhos fiquem com a mãe. Depois então vamos brigar pela pensão, pelas visitas. Porque não brigamos por uma lei mais eqüitativa. Pois, respeitados os dois primeiros anos de vida do infante, quando biologicamente eles devem, com raras exceções, ficar sob cuidados maternos, nos outros também podem ficar conosco, diminuindo os litígios por posse e dinheiro.
Alguns maldizem o casamento, dizem que a relação conjugal é uma relação com jugo. Mas quem deixa, permite, cria condições para isto? O cruel e frio Destino? Ou a nossa acomodação, na esperança de dias melhores? Porque podemos ser criativos com as putas, as amantes, os casos e cansamos e acabamos sendo monótonos com as mulheres que acabamos por chamar de “minha veia”, “a patroa", quando não “aquela coisa”?
Quem sabe possamos ser mais autênticos, menos politicamente corretos mas sem nos transformarmos em ditadores ou cordeiros sacrificais?
Sugiro que nos contatos com as mulheres confiemos mais em nossas tripas e pau do que no cérebro e na cultura. Pode não dar muito certo. Mas, e o resto, deu?


quinta-feira, 21 de junho de 2007

IMPRESSIONANTE

SENHORES! Este é um momento de extrema gravidade. Estamos sendo invadidos pelos argentinos sem nos darmos conta. Ontem a noite a quantidade de foguetes festejando a vitória do Boca deu para dar uma idéia da dimensão desta solerte invasão.
Vamos nos precaver!! Para as trincheiras! Estamos cercados de portenhos!

NOTA DE FALECIMENTO

Se dice uno pierde un amigo pero no debe perder el chiste.

Hasta por qué soy River Plate desde chiquitito!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

EXPLICAÇÃO

Como o editor deste blog está com uma laringite alérgica, temporariamente não teremos matérias novas.
Assim que nos for possível traremos novidades.
PS - ao meu lado se encontra internada D. Esperança Tricolor, mas o quadro dela é muitíssimo mais sério que o meu, é bem provável que não passe desta noite.

domingo, 17 de junho de 2007

FANATISMO ou LOUCURA

Desde a semana passada, aqui em Porto Alegre vem chovendo a cântaros, ou canivetes, ou a gatos e cachorros.
Talvez conviesse dizer que todos os tipos de chuva estavam presentes. Aguaceiros, bátegas, mangas-d'água, chuvisqueiros borrascas, chuvinhas, , dilúvios, pancadas, garoas, chuviscos, neblinas, procelas, chuvões, torós.
Pois bem. Quarta, dia 19, o Grêmio porto-alegrense, que tomou 3 gols do Boca, na Bombonera, lá em Buenos Aires, vai novamente enfrenta-lo, só que no Olímpico Monumental. Precisará ganhar de 3 x 0 para levar a disputa aos pênaltis. Tarefa das mais difíceis.
Quinta feira foi aberta a venda dos ingressos para associados. Os ingressos para não sócios brasileiros (Foram enviados 2500 ingressos para serem vendidos em Buenos Aires pá la hinchada de Boca.), só seriam vendidos a partir de hoje, domingo, dia 17.
Pois não é que uma reportagem da televisão mostra, em meio a um temporal daqueles, que a primeira pessoa da fila para comprar os ingressos comuns era uma moça, dos seus 17/18 anos, que entrara na fila quinta feira de manhã!
Ali, com uma garrafa térmica para o tradicional mate, um guarda chuva, uma cadeira de praia e vestuário a menina esperava. Dizem que o pai ia umas três vezes por dia para levar uma comida quente e ocupar o lugar na fila enquanto ela ia ao banheiro.
Aí eu fico pensando nos homens-bomba, naqueles sujeitos que se autoflagelam em datas religiosas, em jovens que se auto-imolam em lutas liberticidas, de antemão perdidas, e o que é pior, prováveis vítimas dos regimes que pretendem impor.
Que coisa estranha é esta, o fanatismo, a fé enlouquecida.
A vida para elas deve ter só um sentido. Devem ser pessoas limitadíssimas na capacidade de pensar. A flexibilidade, a capacidade de se colocar no lugar do outro deve ser, para eles, algo impossível.
Ter de lidar com as contradições humanas, com as dúvidas, com a incerteza deve representar-lhes uma tarefa dolorosíssima, se não impossível.
Quando alguém me fala numa fé, deste grau, saudável, só posso pensar que esta pessoa está ironizando, ou tirando uma grande vantagem.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Uma idéia

Occorreu-me uma idéia. Coloquei outro dia no meu blog uma frase do Euclydes da Cunha (Isto mesmo, com Y). Já na poesia, nada se compara, para mim, com "Ora direis ouvir estrelas", do Olavo Bilac.
Aí ocorreu-me a seguinte idéia.
Que tal se cada um colocasse um trecho de prosa, ou poesia, que na sua opinião fosse a mais bonita da língua BRASILEIRA.
Acho que muitos de nós ficaremos surpresos com as pérolas que iremos descobrir.

O ÍDOLO - o final

Para falar do FIM de E. tive de lançar mão do Euclydes da Cunha. Até porque eu acho este trecho o mais belo da língua portuguesa. Se um dia eu responder uma daquelas enquetes idiotas, que servem de mostruário da hipocrisia humana, tipo "meu perfil". Férias inesquecíveis, filme inesquecível, etc. e tal, se perguntassem, trecho inesquecível, eu colocaria este.
Fechemos este relato.
E. morreu, numa morte que foi a síntese da sua vida.
Forremo-nos à tarefa de descrever os detalhes de seus últimos momentos. Nem poderíamos faze-lo. Esta página, imaginemo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerremo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem...
Morreu a cento e picos de km por hora, num Dodge Charger RT, vindo de uma fazenda e indo para outra, atropelando um touro de raça que tinha rompido o aramado, com uma namorada do lado. E talvez, porque sempre foi um cavalheiro, qualquer que fosse a mulher, tivesse num último ato de gentileza, feito alguma manobra, pois a moça nada sofreu.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte X - não resisti a tentação de colocar mais esta

Esta história que vem a seguir não era das do meu acervo. Mas quem leu a série, lembrou-se e me mandou. Só não coloco o seu nome porque ficaria, aí sim, muito fácil de saber quem era o E..
Certa ocasião chega numa das várias estâncias e sai de manhã bem cedo pro campo com a peonada, antes orientando a mulher do capataz que carneasse um capão para comerem na volta. Sim, porque com ele não tinha esta história de economizar na comida de quem trabalhava com ele.
Eis que depois da lida, voltando pras casas, vem a mulher do capataz e chama de lado o marido. Este volta e diz ao E. que uns gatos tinham roubado o capão carneado e só tinha sobrado um costillar.
Pois o E. não falou nada e seguiu rumo ao galpão.
Ao passar de baixo de uma árvore encontrou um gato bem gordo atirado na sombra.
E. sacou seu revólver e deu 2 tiros no gato. Pra total espanto e cagaço do capataz e da mulher.
E. guardou o revólver e disse: Este filho da puta não come mais minhas ovelhas! E se eu vir mais gato por aqui passo-lhes na faca.
E foi comer a costela que sobrou.
Casualmente a partir de então os gatos, cachorros, pararam de comer a carne das ovelhas para consumo da fazenda...
Que ele sabia administrar, sabia, quanto a isto não tenho dúvidas!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte VIII

Neste dia estava a ratatuia toda junto. Tomando um matezito no más, em frente à lareira, curtindo a boa vida que o dinheiro do E. permitia.
Quando de inopino (o momento foi tão dramático que não caberia um simples, de repente) adentrou no recinto, todo mundo sentiu o cutuco. Mas era tarde pra bate em retirada. A não ser pulando uma janela, mas isto faria com que a emenda ficasse pior que o soneto.
Com a firmeza d’um daqueles juízes de Ultimate Fight, deu um “filhos fora”, e com um olhar daqueles que não admite uma contestação observou a saída.
Genros e nora ali ficaram, com aquele mal-estar de quem sente o intestino se irritar e não vê banheiro por perto.
-Negócio seguinte. Nunca me meti na vida de vocês, nem nos namoros de vocês. Mas, já que se meteram, eu vô me meter na de vocês.
-Herdei do meu pai 6 quadras de campo e cuidei das 12 da vó dos guris. Isto eu tenho obrigação de deixar pros meus filhos. Os campos da minha mulher o meu sogro, e os filhos dele, puseram fora. Não sobrou nada. Portanto, tudo que tá aí eu herdei, ou comprei, e estas são 398 quadras, que eu consegui com meu trabalho.
-Portanto os guris, e talvez vocês, vão aproveita-las, SE EU QUIZER. Por que, se eu não quiser, queimo uma quadra de campo por dia só pra gastar o que é meu.
Por outro lado, se eu saio com um monte de mulher é porque eu gosto de mulher. E gosto de mulher bonita, elegante, pode até ser puta, mas não as putinhas vagabundas do cabaré da .......... que o teu pai, Fulano, freqüenta.
Ou como as aluninhas que o teu pai, Cicrano, tentava comer, porque era tão desajeitado, o apelido dele, entre elas, era Tartarugão, que não conseguia nem casquinha tirar. Mas Beltrano, Mengano tiraram cascão da tua mãe e o teu pai teve de se fazer de surdo e cego prá não precisar tomar atitude.
O teu pai MM, referindo-se a nora, há anos sustenta mais duas famílias, só por que pensa que os filhos delas são dele. Mal sabe ele que dá a volta na quadra e elas chamam o chamego delas pra satisfaze-las, porque o teu pai é tão rapidinho que não dá nem tempo delas saberem o que foi que aconteceu. Quiser trago umas dez mulheres que contam a mesma história. Da tua mãe só posso dizer que é uma santa. Porque agüentar a vida inteira sem dar umazinha boa, só sendo uma santa. Vai pro céu com procissão e tudo.
Talvez tenha sido cruel, talvez se diga que não tinha que por outros no meio do bafafá todo. Mas quem somos nós para julgar fatos a tão grande distância, com detalhes que foram perdidos na polvadeira dos tempos e no furdúncio, na reboldosa das emoções e interesses em jogo.
O fato é que depois de todo este sururu, ninguém mais se meteu na vida de ninguém. Alguns tiveram que alargar os seus esôfagos para poder engolir os sapos e os lagartos; mas quem nos diz que isto não lhes tenha sido benéfico no futuro?

domingo, 10 de junho de 2007

Dias de Chuva










Na contramão do que gosta a maior parte das pessoas, eu adoro dias frios, chuvosos.
Este fim de semana não parou de chover. Amanhã segunda vou ouvir um monte de gente reclamando. Vou ter de dizer que eu amei.
Amo estes dias sombrios desde a minha infância. Culpa da minha mãe. Aliás dizem que tudo que somos é culpa da mãe!
Mas quando guri, em Livramento, dia de chuva eu não ia ao Grupo Escolar Rivadávia Corrêa. Mami, que era professora dizia, a meu ver, muy sabiamente:
“Não adianta ir ao colégio num dia como este. Não vai ninguém e as professoras não passam matéria nova.”
Eu adorava a sabedoria da Mami.
Portanto o Gazapina (Uma cervejaria que ficava a meia quadra da minha casa, falecida por conta das Ambev da vida –antecessoras – e da ainda incipiente globalização.) que apitasse para avisar os seus operários que era hora de acordar e entrar para trabalhar. Eu tava fora desta!
Eu estava livre. E como adorava esta liberdade. Aprendi tudo que um dia chuvoso pode proporcionar. Cama, ler a vontade, comer um monte de coisa que eu pedia para as empregadas fazerem, tomar banho de banheira y otras cositas que fui descobrindo no tempo.
Acho que isto criou um sentimento atávico que está vivo até hoje.




Grande fim de semana!!!

O ÍDOLO - VII parte

Quase que prá encerrá esta história, conto uma lambança que ocorreu num determinado momento da vida do home. Nunca se sabe bem como a coisa correu, tal foi a balbúrdia. Pega um fragmento daqui, outro dali, um outro acolá e se vai montando um quebra-cabeça. Das testemunhas do fuzuê se tem, como sempre, relatórios no qual cada um conta o fato de maneira a aparecer como herói, ou pelo menos como a maior vítima do cruel destino que o mundo já conheceu. Porque disse, por que não disse, e se impôs, e fez mundo todo ver o que estava óbvio de ser visto, e assim por diante. Não tem medo, enfrenta as conseqüências, assombra os demais. Já me disseram que os juizes consideram os testemunhos, como as prostitutas das provas. Vou dar pro fuzuê todo a forma que me parece mais de acordo com o jeito do E. ser.
Os filhos já crescido, começaram a aparecer os genros e noras, que, como todos sabem, entram que nem muçum ensaboado na família e depois é que vão começar mostrar as garrinhas.
Assustados com a quantidade de mulheres na vida do E., com medo de ter de repartir herança com uma daquelas percantas, ou com um bastardinho qualquer, resolveram por fogo no circo.
Se reuniram em comissão, que é como os cagões se apresentam, e foram falar com a mulher do E.
-Olha dona, nós não somos de fofoca, mas agora a coisa tá demais. O seu E. tem abusado. Daqui a pouco ele entra com outra família porta adentro.
E desfilaram um monte de despilparros que o homem estaria cometendo.
Dona ......, que sempre se mantivera distante das aventuras do marido, tanto que até dizia: “Querê sabê pra quê! Nunca que eu vou encontrar um capataz como ele prá cuidar da minha parte! Quando eu conheci ele, prá santo já não servia.” Desta vez, frente ao volume de provas e a importância afetiva que as testemunhas de tanta sacrapintisse tinham, resolveu tomar umas atitudes.
Assim que E. chegou na cidade, se fechou numa sala para botar uns ponto nos is com ele.
E começou a desfiar o lero-lero que lhe haviam contado. Não queria desculpas, queria atitudes.
E. que não era home de perder a cabeça por qualquer cosa, foi direto ao assunto.
-Que eu sempre fui mulherengo nunca foi segredo prá ninguém. Tu fingia que não via e eu te ajudava a fingi. Pára com esta ladainha então. Qué te separa, te separa! Quem é que vai cuidá da tua parte, prá tu continuá tendo os luxo que tu tem. O bosta do teu pai que botô fora tudo que herdou? Que tu vive ajudando nas escondidas, prá ele fazê grandes negócios nas mesas de carteado do Comercial? O débil mental do teu irmão que não sabe distingui uma novilha d’uma ovelha, que a tua cunhada enche de guampa e que ele cala a boca prá vê se algum deles fica de fiador prá compra alguma coisa, porque tem medo de largar o empreguinho e tentá sê gente na vida? Ou tu vai largá esta vida de rainha, te mudá prá estância, sujá as botas de couro italiano no barro e na bosta prá fazê uns trocado? Porque na hora da repartição duvido que algum dos peões, ou capataz, quera parar de trabalhar comigo prá trabalhá contigo! A não ser os que queiram se aproveita prá robá; total, bem de viúva rica e mulhé desquitada é de todo mundo. A tua irmão que o diga! Só tem algo ainda porque eu assumi os negócios antes dela perdê tudo! Os nossos filhos nem sabem o que é estância. E os bundinha dos namorados das gurias não sabem nem que cavalo é prá montá.
-Qué te separa, te separa, mas vai cuidá das tuas coisas!
E mais não disse e mais não lhe perguntaram.
Dona ...... ficou alguns dias furibunda, mas depois achou melhor deixar tudo como d’antes no quartel de Abrantes.
Mas o bochincho estava longe de terminar, pra alguns tava recém começando.
Como todo mundo que se dá bem na vida, e E. era um exemplo disto, têm-se que aprender a esperar a hora certa.Ficô abeirando, só bisoiando, a chegada do momento, que certamente chegaria, como de fato chegou.
Paciência gente, só faltam agora mais dois capítulos.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O ÍDOLO - VI parte

Desta viagem trouxe um touro, que veio de avião, uma novidade na época, principalmente aqui para o Rio Grande do Sul.
Daqueles touros com nome, sobrenome, árvore genealógica de nobre, para melhorar o seu rebanho, que já tinha a fama de ser um dos melhores do país.
Desembarca o touro ali por setembro e é posto a trabalhar. E fatura uma, duas e mais vaquinhas. No mês de outubro a produção cai um pouco. Em novembro praticamente cessa. De dezembro em diante o bichão nem aí para as vaquinhas que punham junto a ele.
De início aquelas especulações de leigo. Cansaço, estranhou a alimentação, fase da lua, olho gordo. E o mês de dezembro foi-se escoando. Entra janeiro e nada. Chamam o veterinário.
Este começa com aqueles diagnósticos que a gente dá quando não sabe bem o que está acontecendo. Virose, stress, uma infecçãozinha indetectável, flora intestinal, e assim por diante.
Fevereiro a coisa se mantém na mesma. E. já começa a se emputecer. –Vai vê este bicho é puto!
Março nada. Abril tampouco. E. chegou a cogitar na idéia de carneá-lo.
Em maio começa um friozito e, para surpresa geral, o bicho rebenta uma porteira e se joga nas vacas leiteiras. Dali em diante volta a ser el gran comedor.
Em junho E. já dizia, com orgulho: -Saiu ao dono.
Julho, agosto, setembro tudo numa boa. Outubro recomeça o decréscimo. O novembro, calorento, bafoso, faz com que o bichão salga de vacaciones y de huelga a los funcionários.
Mas aí E. fez a grande dedução. O bicho só funcionava no frio.
Mandou fechar uma parte de um galpão, tacou-lhe ar condicionado, botou o animal lá e mandava as vacas visitá-lo. E ele não fazia feio. Fora criado o primeiro motel para vacuns no estado.
E. comentava. –Faço a mesma coisa que ele e não tenho tanta frescura!


quarta-feira, 6 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte V

D’outra feita foi a Europa comprar uns touros. Lá, como não poderia deixar de ser, foi uma noite a um daqueles cabarés famosos.
Neste se encantou com uma dançarina. Chamou o maitre e disse-lhe.
-Diz que eu pago 200 dólares, uma fortuna na época, principalmente para nós, guris pelados do interior, para ela deixar os seios de fora.
O homem foi lá, falou para a moça e esta veio até a mesa dele.
-Por 200 dólares eu mostro os seios e tudo o mais.

Disse que até deixava ele come-la (Isto em francês, na linguagem da época, que não mais sei reproduzir).
Ao que ele, com elegância, respondeu, também em francês.
-Hoje não minha querida. Estou de dieta. Só coisas leves.

terça-feira, 5 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte IV

Viajar com ele era muito mais emocionante do que ir a Disney, assistir uma fórmula um. Pois era ao vivo, real, a cores e com poeira. Sempre a bordo de uma camioneta Chevrolet, ou Ford, pois não ia se michar e vir de Rural Willys e muito menos Kombi. Para ele não tinha estrada boa, nem ruim, aplainava todas elas com a velocidade. E tinha uma perícia incrível, nunca soube de um acidente mais sério, a não ser o que o matou, mas isto, aos 70 anos bem vividos, não dá para chamar de tragédia; mas depois eu conto deste, pois foi uma síntese da sua vida.
Pois Bueno; um dia vínhamos com o meu pai de Porto Alegre para Livramento no nosso Simca Chambord, três andorinhas, quando, logo após Pântano Grande, caiu o eixo do diferencial. Foi logo depois da morte da minha avó e viajava conosco uma irmã dela, velhinha dos seus 75 e lá vai pedrada.

Estávamos parados na beira da estrada quando nos aparece o E. Homem de decisão, pega uma corda, nos reboca até um posto de gasolina, onde deixa o Simca e o meu pai e parte comigo, meu irmão e a tia Virgínia para a cidade mais próxima para buscar socorro mecânico. E lá fomos nós, estrada afora, sentando-lhe o pau na camioneta, no meio de uma polvadeira pavorosa, comigo e com o Totonho vibrando e com a tia Virgínia em pânico. Lá pelas tantas se deu conta do medo da velhinha e condoído encontrou a solução: - Vózinha, fecha os olhos que aí não vai ver nada e não vai ter mais medo. A tia fechou os olhos e ele continuou a mil, para gáudio nosso.

Outra vez vínhamos da fazenda dele para a cidade quando na beira da estrada uma senhora gorda, negra, daquele tipo pachorrenta, sentada em cima de um saco de roupa suja, pediu carona. E. disse que tudo bem, só que, como a cabina da camioneta estava cheia, ela teria de ir na caçamba. O que para ela não era nenhum problema. Naqueles tempos isto era corriqueiro, não era politicamente incorreto e, mais ainda, para ela era muito melhor do que esperar o ônibus, que, além de demorar a chegar, nunca dava certeza de que iria chegar ao destino.

E lá partiu o E. a toda. Lá pelas tantas dá uma freada.
Puta merda! Perdi a negra!

Olhamos e realmente a caçamba estava vazia.
Demos meia volta e, na beira da estrada, numa curva fechada, sobre um barranco estava a lavadeira, com os olhos esbugalhados, balbuciando coisas incoerentes, mas absolutamente ilesa!

Quando nos viu disse:
Seu E. o Sr. caiu do céu! Vou fazer um bolo pro senhor!
E. riu, levantou-a, colocou-a na caçamba e continuamos a viagem, do mesmo jeito, com o pé no fundo.
Ao descer ela ria e dizia para ele. – Ah seu danadinho! –Ah seu danadinho!

domingo, 3 de junho de 2007

O IDOLO - III Parte

E não era papo não. Nós era testemunha ocular. Das de veras. Um de nós tava sempre fresteando prá tê o que contá, ou prá se inspirá nas maria-maricotas que era o que nós mais fazia. Fresteá o E. era melhor que ler as Memórias de Madame du Barry, que foi o livro mais lido em Livramento naquele tempo. Se caísse no vestibular tava todo mundo aprovado. Com louvor.
Então, um cara boa pinta, com vários carrões, rico, campo a mais não poder, cheio de mulher, comedor, não era um cara prá ser ídolo?

LEITURAS

A minha amiga Marcia Benetti Machado que é uma jornalista de mão cheia no seu blog ( http://marciabenetti.blogspot.com ) desafiou várias pessoas a revelarem o que estão lendo. Talvez por conta da idéia de: Diz-me o que lês e dir-te-ei quem és.
Pelo presente eu CARRION, http://ohedonista.blogspot.com , venho a declarar aos 2 dias do mês de junho do Anno Domini de 2007, quinquagésimo oitavo do meu aniversario, que ando lendo AS PROSTITUTAS NA HISTÓRIA de Nickie Roberts, O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA ou Helenismo e Pessimismo do NIETZCHE e para deixar os neuronios darem uma descansada, HITLER, O RESGATE DE MUSSOLINI. Que serve para mostrar como em determinados momentos a indecisão de alguns (do rei Vitor Emmanuel e do Marechal Badoglio) e a prepotência de outros (Churchil e Eisenhower), puderam ajudar a guerra a se prolongar por tantos meses a mais, ao custo de milhares de mortos.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte II

Boa pinta, que home da frontera nunca acha home bonito. Quando muito boa pinta e assim mesmo só despôs duns trinta anos, prá ninguém ficá pensando mal do vivente. Rico, mais de 400 quadras de sesmaria, lotadas de gado, e com as ovelhas só prá preenche as frestas, sempre em cima de um carro com motor grande, não estas porquerias de 1.0, 1,4 e por aí vai afora. Isto é motor prá lambreta, que é côsa pra fresco.
Mas principalmente, era putanhero de primera linha. Entrava no Chalé Verde e era só seu E. prá cá, seu E. prá lá, e não qué um uisquizinho seu E., seu E. venha conhece a Mercedes, acabô de chegá, quasi virge, só tá aqui por que tem de ajuda a vó que tá na Santa Casa e assim por diante, porque puta é assim mesmo, sentiu o chêro das bijujas e já ficam tudo alçada prá pega uma berba na grana do vivente. Bom, se entrava no Piano Drink a babação de ovo era de pega nojo. Se jogavam nele como mosca na bosta. Mas não era só puta. Era empregadinha, arrumadeira de hotel, guria de loja. E nós só ali. Babando e batendo punheta. Prá piorá pro nosso lado, comia as madamas, as filhas mais velhas das madamas, e era casada, soltera, desquitada, abandonada do marido. Só viúva não; dizia que era prevalecimento.