terça-feira, 5 de junho de 2007

O ÍDOLO - parte IV

Viajar com ele era muito mais emocionante do que ir a Disney, assistir uma fórmula um. Pois era ao vivo, real, a cores e com poeira. Sempre a bordo de uma camioneta Chevrolet, ou Ford, pois não ia se michar e vir de Rural Willys e muito menos Kombi. Para ele não tinha estrada boa, nem ruim, aplainava todas elas com a velocidade. E tinha uma perícia incrível, nunca soube de um acidente mais sério, a não ser o que o matou, mas isto, aos 70 anos bem vividos, não dá para chamar de tragédia; mas depois eu conto deste, pois foi uma síntese da sua vida.
Pois Bueno; um dia vínhamos com o meu pai de Porto Alegre para Livramento no nosso Simca Chambord, três andorinhas, quando, logo após Pântano Grande, caiu o eixo do diferencial. Foi logo depois da morte da minha avó e viajava conosco uma irmã dela, velhinha dos seus 75 e lá vai pedrada.

Estávamos parados na beira da estrada quando nos aparece o E. Homem de decisão, pega uma corda, nos reboca até um posto de gasolina, onde deixa o Simca e o meu pai e parte comigo, meu irmão e a tia Virgínia para a cidade mais próxima para buscar socorro mecânico. E lá fomos nós, estrada afora, sentando-lhe o pau na camioneta, no meio de uma polvadeira pavorosa, comigo e com o Totonho vibrando e com a tia Virgínia em pânico. Lá pelas tantas se deu conta do medo da velhinha e condoído encontrou a solução: - Vózinha, fecha os olhos que aí não vai ver nada e não vai ter mais medo. A tia fechou os olhos e ele continuou a mil, para gáudio nosso.

Outra vez vínhamos da fazenda dele para a cidade quando na beira da estrada uma senhora gorda, negra, daquele tipo pachorrenta, sentada em cima de um saco de roupa suja, pediu carona. E. disse que tudo bem, só que, como a cabina da camioneta estava cheia, ela teria de ir na caçamba. O que para ela não era nenhum problema. Naqueles tempos isto era corriqueiro, não era politicamente incorreto e, mais ainda, para ela era muito melhor do que esperar o ônibus, que, além de demorar a chegar, nunca dava certeza de que iria chegar ao destino.

E lá partiu o E. a toda. Lá pelas tantas dá uma freada.
Puta merda! Perdi a negra!

Olhamos e realmente a caçamba estava vazia.
Demos meia volta e, na beira da estrada, numa curva fechada, sobre um barranco estava a lavadeira, com os olhos esbugalhados, balbuciando coisas incoerentes, mas absolutamente ilesa!

Quando nos viu disse:
Seu E. o Sr. caiu do céu! Vou fazer um bolo pro senhor!
E. riu, levantou-a, colocou-a na caçamba e continuamos a viagem, do mesmo jeito, com o pé no fundo.
Ao descer ela ria e dizia para ele. – Ah seu danadinho! –Ah seu danadinho!

2 comentários:

Marcia disse...

HAHAHAHAHHAHAHAHAHAAHAHAHAHA!!!!!

Anônimo disse...


Onde está o Totonho agora???