domingo, 13 de janeiro de 2008

PENA DE MORTE OU PRISÃO - UMA QUESTÃO JÁ BEM ANTIGA

O Pirulito estava ali de tocaia para ver se faturava algo naquela hora de lusco-fusco.
A vida não estava fácil. Nunca gostara de trabalhar. Para piorar, depois que fora preso, mais de uma vez por furtos, ou brigas, a coisa ficara mais osca ainda.
Quando viu a senhora entrando no edifício com duas sacolas de super mercado, pensou: - É agora! Deu uma última cafungada numa cocaína de segunda que extorquira de um traficante chinelão e foi em frente.
Calçou a velha com uma faca e fez ela abrir a porta.
Deu de cara com uma moça com um nenê no colo e um senhor vendo televisão. Não se fez de rogado. Tacou um vaso na cabeça do homem, pra impor respeito e já anunciou o assalto. Que se não fizessem o que ele queria morria todo mundo. A começar pela criança. Para facilitar a vida (a sua), amarrou todo mundo.
Queria saber onde estava a grana, ou objetos de valor. Para garantir que ninguém mentisse, ia distribuindo uns cascudos aqui e ali. Neste meio tempo pegou umas bebidas na cristaleira e tomou uns goles. Gostava de se sentir meio doidão.
Achou a moça muito do gostosinha e não teve dúvidas, colocou-a de bruços num dos braços do sofá e faturou-a na mesma hora. Como ela tentasse reagir, enfiou-lhe o caralho no rabo para ela aprender a ficar quieta e respeitasse quem tava com a força.
Como a criança estava chorando colocou uns travesseiros sobre a cabeça dela para abafar o som. Os velhos se desesperaram e ele achou melhor despacha-los para o outro mundo.
Deu-se conta que a moça a tudo presenciara e, como ele estava sem máscara, portanto facilmente reconhecível, resolveu não deixar pistas. Fez uns furos nela que a silenciaram.
Deu azar.
Na saída, se enroscou no fio do DVD que estava roubando tomou um trambolhão na escada e se estatelou no hall de entrada. Com o barulho, o sargento da Brigada Militar que morava no mesmo andar saiu para o corredor, se deu conta do que estava ocorrendo, imobilizou-o com uma botada no meio das ventas e já o amarrou com o próprio fio causador do tombo.

O resto é previsível. Delegacia, prisão, julgamento.
Neste meio tempo a imprensa alvorotada deu todos os detalhes do acontecido, ouviu a opinião de populares, dos juristas, dos grandes da terra sobre o que fazer com um sujeito como ele.
Dois dos mais insignes cidadãos manifestaram-se de forma distinta.
Um deles dizia, que nestes casos escabrosos deveria se julgar sem sentimentos de ódio, de amizade, de ressentimento, de compaixão. Que o obnubilado por essas prevenções tem dificuldade de discernir a verdade. Não se serve ao mesmo tempo a paixão e os interesses da Sociedade. Lembrava que, mesmo em casos como este, em que parece não haver a menor dúvida quanto à autoria, corre-se o risco de criar uma jurisprudência que, mal empregada, pode levar um inocente a ser punido injustamente e de uma maneira irreversível. Na decretação da prisão perpétua, possíveis injustiças podem ser reparadas. ...os deuses não quiseram fazer da morte um castigo, sendo ela uma lei da natureza, o fim dos trabalhos e das misérias. A Parca é apenas um estado de repouso e não um suplício. Ela põe a termo todos os males dos mortais. Para além dela, não há mais alegria nem sofrimento.
Ao que o outro jurista contrapunha. – Julgo dignos de morte os assassinos... ...não encontrando entre os outros suplícios nada que seja demasiado rigoroso. Criminosos como estes não devem um instante sequer usufruir a luz e respirar o ar do qual privam suas vítimas. Querer impor a este celerado uma prisão, é condenar as pessoas a passarem o resto de sua vida a pagar pela vida dele. O cidadão comum pagará duas vezes pelas ações deste facínora. Fará com que o trabalhar continue a correr o risco de, em fugindo o sicário, ter de enfrentar mais uma vez a sua crueldade, a sua desumanidade, a sua maldade, o seu ódio, a sua perversidade. Dai-lhe uma prisão, qualquer que seja, e deixareis a ele uma esperança, uma ilusão. Na Morte se perdem todas as ilusões. Sem perder o medo de que o castigo continue, pois, não existisse este medo, a Morte não seria temível.
E você, meu amigo, que partido tomaria?
Observação: Os dois cidadãos, discutiram, nestes termos, apenas a linguagem foi por mim modificada há 2070 anos atrás no Senado Romano, por ocasião do julgamento dos cúmplices de Catilina. Um deles se chamava Julio Caio César, o outro Marco Túlio Cícero. Ambos não acreditavam, e a experiência parece corroborar isto, que criminosos a partir de um certo grau não mais são recuperáveis. Aqui ou em qualquer época ou lugar do mundo. Vide os livros de História e as páginas dos jornais.

Um comentário:

Maroto disse...

esse é um tema que me tira o sono. Acho que a discussão só rende se antes do mata-ou-prende a gente discutir porque prender (porque matar é mais evidente, embora haja nuances em jogo). A idéia por trás da prisão é recuperar ou tirar do convívio social?