quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O BISPO, O RIO, A CHANTAGEM

Não entendo de rios e de transposições de rios. Portanto, não é sobre isto que me proponho a escrever.
Embora motivado por fatos da atualidade, me interesso é por um assunto extemporâneo.
Não sou nem a favor, nem contra a tal transposição do rio São Francisco, mesmo que me digam que uma obra deste porte servirá para grandes roubalheiras.
Num país como o nosso sempre haverá grandes obras que criarão oportunidades para os que querem se locupletar. Portanto, se não for nesta, será numa outra qualquer. Os nossos fazedores de fortunas espúrias são criar e aproveitar as mais diversas circunstâncias. Competência é o que não lhes falta.
Vou escrever é sobre uma coisa que me incomoda profundamente.
A chantagem, a prepotência, dos que querem manejar os outros pela sensação de culpa.
Por mais que o Bispo tenha razão, o modo como ele tenta impor o seu ponto de vista é espúrio. E, se for apenas para chamar a atenção dos demais, pior ainda. Existem outras maneiras de defender o seu ponto de vista que não seja este. A História que o diga.
Numa peça que assisti, quando entrava nos meus 20’s, anunciam o suicídio de uma pessoa. A atriz, acho que a Fernanda Montenegro, na sua fala diz:
-Tenho nojo dos suicidas!
Só não digo a mesma frase por conta de que evito as generalizações. Entendo o desejo, o ato, nas crianças e adolescentes que são movidos por impulsos. Entendo a atitude nos que padecem de dores fortes e incuráveis. Entendo nos velhos, que vêem a vida se desvanecer, sem nenhuma perspectiva. Até entendo, mas aí como psiquiatra, naqueles que usam a ameaça como uma forma de pedir socorro.
Mas o modo como o Bispo age é para que nós fiquemos responsáveis pela vida dele. Se algo ocorrer a ele, o Governo é que será o culpado (Longe de eu estar defendendo o governo Lula.).
Ao Governo nada mais resta que uma rendição incondicional. Ou ter de enfrentar o risco de, morrendo o dito Ministro de Deus (?), ter a opinião pública contra si, de vez que esta adora uma pobre vítima do cruel destino.
Um ótimo meio de lidar com este tipo de chantagista, é não dar importância ao seu ato e deixá-lo responsável pela sua vida.
Dizem que após a cassação do Carlos Lacerda, este, descontente com os rumos que a revolução estava tendo, entrou em greve de fome. Depois de alguns dias um amigo foi visitá-lo no hospital, entrou no quarto e disse:
-Ô Carlos, para com esta frescura. É verão, tá todo mundo na praia, ninguém tá dando bola pra ti. Tu não tá no país de Hamlet, tu tá na terra do Macunaíma!
A greve de fome acabou no mesmo dia.

Adendo:

Evidenment não estou falando daqueles que por um dos azares da vida tem os seus níveis de serotonina muito baixo. Estava me referindo aos que usam este mecanismo para dominarem os outros à sua vontade.Sei que na depressão verdadeira (ou algumas outras patologias psíquicas) o suicídio muitas vezes parece ser a melhor solução e que isto tem de ser tratado. Para isto eu existo.

2 comentários:

Maroto disse...

por favor, senhor doutor psiquiatra, inclua os deprimidos na sua listinha de 'perdão aos suicidas'. Não quero dizer os tristinhos, claro, mas os 'de verdade', com níveis ferrados de serotonina (ou seria a noradrenalina? Sei lá, o psiquiatra aqui não sou eu).
Eu não discordo que quem nunca viveu o horror dessa miséria profunda seja feliz e deve dar glória aleluia aos seus próprios neurotransmissores todos os dias.
Eu dou.
Não que me faça diferença o teu perdão nem que eu tenha me suicidado, claro (nunca tentei, aliás), mas apesar disso aqui eu escrevo em primeira pessoa.
De repente algum deprimido 'de verdade' lê esse texto no teu blog, ainda por cima lembrando ao dito cujo que o autor é psiquiatra. Uma coisa dessas tem tudo para aumentar a repulsa do dito cujo por si mesmo até o limite em que ele se mata de vez. Pra punir a ele próprio, que está convencido mesmo de que é um merda, não pra chantagear você ou quem seja.

fora isso, eu tô contigo, chantagem emocional é caso pra joelhaço.

Carlos Eduardo Carrion disse...

Minha querida Maroto. Evidenment não estava falando daqueles que por um dos azares da vida tem os seus níveis de serotonina muito baixo. Estava me referindo aos que usam este mecanismo para dominarem os outros à sua vontade.
Sei que na depressão verdadeira (ou algumas outras patologias psíquicas) o suicídio muitas vezes parece ser a melhor solução e que isto tem de ser tratado. Para isto eu existo.