sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

COTAS – UM OUTRO LADO


Eu estava em um táxi conversando com mi vieja (88 anos, porém lúcida, ainda dá palpites na minha vida.) a respeito da aprovação do meu filho na PUC, explicando-lhe porque ele não iria, em princípio, matricular-se lá; mas que passar na UFRGS, ou na Fundação, não ia ser nada fácil, por conta da questão das cotas.
Quando terminei, o motorista me olhou e disse:
É Dr. este negócio das cotas é uma merda mesmo.
Imagine o azar da minha filha. Ela é branca, ainda por cima tem os olhos azuis da família da minha mulher.
Eu e a minha mulher, quando ela passou para o 2º grau, fizemos um sacrifício e colocamos a menina num colégio particular, pois o que ela estudava era muito fraco.
Não foi mole, nem eu, nem a minha mulher e nem ela pudemos tirar umas férias. Ela (a filha) até começou a trabalhar a fim de ajudar a pagar nos estudos. Neste último ano, a minha mulher até pegou estas coisas da Natura, pra faturar uns pila.
Pra quê? Para ela agora enfrentar um montão de gente (a filha quer Medicina), sem ter praticamente chance nenhuma, porque ficou muito difícil para quem não pega uma cota. Ela não é de cor e não tem culpa por isto. Não estudou em escola pública por que nós decidimos nos sacrificar para ela ir mais preparada. Teria valido mais a pena deixar ela na escola pública que, pelo menos, numa cota ela entrava.
Tá brabo Dr.! Tá brabo!
Pensei que, no futuro, muita gente vai procurar o tal pé na cozinha, dar umas sessões de bronzeamento para os filhos, coloca-los numa escola pública, separar-se judicialmente pro forma, de maneira que a responsável pelo adolescente ficasse com uma renda lá em baixo e, aí sim, metia-lhe num bom cursinho, com bons professores particulares e, ainda por cima, contaria com as benesses (Benefícios, vantagens – segundo o seu Aldo Rabelo e sua lei, terei de colocar a tradução ao lado de cada estrangeirismo que usar.) das tais cotas.
Será que isto é moral, ético? Mas serão as tais cotas morais, éticas?
Ou é um arranjo do descaso com a educação que procura a solução imediatista, sem gastos, para continuar gastando em outras coisas? Não seria mais fácil dar bolsas para os alunos carentes, créditos subsidiados, tipo o tão mal falado, à época, crédito educativo?

2 comentários:

Maroto disse...

a questão das cotas me incomoda acima de tudo porque tira o foco da discussão do lugar onde ele deveria estar - na péssima qualidade do ensino público de primeiro e segundo graus. Enquanto tivermos uma escola pública patética, com professores mau pagos lecionando em prédios caindo aos pedaços (e mesmo assim sem vagas para todos) não há cota de tipo algum que conserte coisa nenhuma.

Carlos Eduardo Carrion disse...

Maroto, concordo plenamente contigo. O Comendador tirou o sofá da sala para o leiteiro não transar mais com a mulher dele.