quinta-feira, 18 de outubro de 2007
O CLUBE DA CHAVE
Não sei precisar a data do ocorrido. Pois foi antes do meu nascimento e nunca ninguém disse, peremptoriamente, foi assim, assado. Mas, como várias fontes me contaram versões parecidas, é bem provável que o fato seja verdadeiro.
Ao criarem o frigorífico Armour, os ingleses criaram, junto à planta industrial, uma vila inglesa, para moradia dos seus técnicos e pessoal administrativo.
Até hoje, quem vai ao Clube Campestre, passa por casas do mais típico estilo inglês. Havia também o Clube dos Solteiros, que em verdade era um hotel, para o pessoal inglês de nível médio e que vinham solteiros para a minha Macondo.
Também erigiram uma sede monumental para um clube de golfe, que era, à época, com poucas exceções, só para o pessoal inglês. As exceções, para variar, eram os grandes da terra, ou quem tivesse um prestígio muito significativo em algum campo.
Por outro lado, havia ainda muitas rivalidades entre argentinos, brasileiros e uruguaios. Isto determinava que existisse uma forte guarnição militar, com um grande número de oficiais vindo do Rio de Janeiro e São Paulo.
Para completar, a zona da fronteira sempre se prestara de palco para aventuras revolucionárias, o que fazia com que o contingente da Brigada Militar (Polícia Militar) fosse grande. Os oficiais, embora gaúchos, eram de outras cidades. Nenhum governador se agradava da idéia de dar muito poder a um conterrâneo por conta da força eleitoral que isto criaria.
Não bastasse tudo isto, o fato de ser fronteira atraia muita gente em busca da fortuna fácil, ou para negócios, ou foragidas da justiça de um ou outro país.
Este caldeirão de pessoas, sem maiores compromissos com as regras morais vigentes, numa cidade que era pequena e não tinha muitas formas de lazer, tinham de criar algo para se distraírem e divertirem, o que dava margem a muitas extravagâncias.
Dizem que uma destas bizarrias era o clube da chave. Que consistia no seguinte.
Uma vez por mês um grupo se reunia. Faziam um jantar com muita dança, muita brincadeira, muito álcool e, lá pelas tantas, as mulheres (Esposas, namoradas, noivas, nada de prostitutas ou amantes, para não tirar a graça da coisa.) iam cada uma para um quarto. Deixavam uma caixa com as chaves destes quartos na sala. Então os maridos, num jogo de cartas, ou algo pelo estilo, iam tirando as chaves e procurando que quarto aquela chave abria. A surpresa era descobrir qual mulher lá estaria.
Dizem que quando o cara entrava e se deparava com a própria mulher, ficava muito frustrado. Não chegaram a me dizer se a recíproca era verdadeira.
Por isto, quando me falam hoje em swings, trocas de casal, e outras coisas do mesmo gênero, me dou conta que a novidade só existe na cabeça de quem conta o fato. Quadro do Angeli
Em Livramento era mais velho que andar a pé.
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