terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O PRAZER TEM DE SER CRIADO - capítulo VI

Aumentava a hilaridade do momento o comportamento do público. Homens babando. Homens fazendo de conta que viam aquilo todos os dias. Homens “sérios”, que faziam um ar de “que barbaridade”, mas não desgrudavam os olhos e não cediam lugar. Mulheres que aplaudiam. Mulheres se mostravam indignadas, algumas com a meninas, outras com o comportamento do seu homem e, por fim, algumas não escondiam a sua admiração pela audácia de outras mulheres, que estariam fazendo, penso eu, o que elas desejaram um dia fazer e não tiveram coragem.
O barco se afastou numa cena digna de um Fellini.
Ao final da tarde a van buscou as garotas e os rapazes se prepararam para ir embora.
D’Artagnan foi embora embrulhado em seu sofrimento. Ficaria assim por mais 6 a 7 meses, até que um psiquiatra, já havia percorrido vários psiquiatras e psicólogos, fez-lhe uma terapia do joelhaço.

A troco de que ele tinha que estar sempre numa má suruba com a mulher e o outro. Má suruba porque os dois ficavam fazendo o bem bom e ele era que tinha de ficar tomando no rabo.
–Tu não te dá conta bobo, que cada minuto, cada segundo, que tu ficas pensando na tua ex, tu não estás gastando em pensar ou fazer algo por ti!?
-Se é para sofrer vai numa loja de artigos gauchescos, compra um rebenque e fica, que nem estes fanáticos religiosos, a te dar rebencaços pelo corpo todo a toda hora!
Acho que uma intervenção destas não está nos compêndios de psicoterapia; mas que funcionou, funcionou.
Athos continuou a sua vida, assim como Portos.
Aramis mudou um pouco. Passou a criar mais situações para poder usar melhor a sua inventividade.
O Cisne Branco durante um tempo teve a sua lotação esgotada, depois, lentamente, as coisas voltaram ao normal.
O passeio pelo Delta do Jacuí nunca mais foi o mesmo. Sempre havia a esperança, secretamente cultivada, de que numa destas curvas da vida um bando de amazonas viesse trazer o inédito, o surpreendente.
Para os que assistiram de cima do navio ao espetáculo, ficou a expectativa de que uma outra vida era possível.
Aliás, esta é para os queixosos, lamurientos. Uma outra vida sempre é possível, pelo menos até o Alzheimer, a arteriosclerose, ou as demências senis chegarem.





FIM

Um comentário:

Maroto disse...

e tomara que seja uma senilidade feliz!