terça-feira, 8 de abril de 2008

O CASO DA TOALHA

Buenas, o que vou relatar aconteceu já faz uns bons 40 anos. Foi lá pra minha zona. Talvez em Uruguaiana, Bagé, D. Pedrito, quiçás até em Pelotas que, como todos vocês gente de apurada cultura sabem, fazem parte da Grande Santana do Livramento. Algumas como bairros, outras como meros arrabaldes.
O fato é que a moiçola de boa família apareceu prenha. O que deixou a todos estupefactos, é, é estupefactos mesmo, não um simples estupefato, destes vulgarzinhos que a gente usa só prá dizer que sabe umas palavras difíceis.
Aquele anjo de olhos azuis e cabelos encaracolados, prenha, grávida. E mulher barriguda, como dizia o meu bom amigo Paulo Gelon, não podia negar que tivesse trepado, ou levado nas coxas.
O anjo tinha trepado. O que causa sempre um certo regojizo, reboliço, entre o macherio. Pois, se isto ocorre com aquelas de quem não se esperava isto, imagine-se o que as com cara de safada não estão fazendo? -Aí passa a ser só uma questão de tempo prá que uma delas caia na minha mangueira!
Bom, a família, gente rica, mas de poucas luzes, tentou reparar em seguida a situação.
É claro que embuchara do namorado. Um alemãozinho, nem tão zinho assim, filho d’uns gringos plantadores de arroz. O problema é que o rapaz já estava no Rio fazia já uns bons quatro meses.
Mas quanto a isto sempre se dava um jeito. Na fronteira era comum as filhas de boa família terem o primeiro filho com seis ou cinco meses. De sete meses então, nem se fala, e tão taludas eram estas crias que já se abanavam, quando os pediatras, a pedido dos extremosos pais, as colocavam na tenda de oxigênio, por serem muito fraquinhas, prematuras...
Como na época ainda vigorava a regra do “comeu, emprenhou, casou”, o indigitado pai foi falar com pai do suposto genro.
Este recebeu a notícia, ficou naquela de não-sei-se-estou-chateado-pelo-guri-se-comprometer-tão-cedo, ou se ficou satisfeitão por ser pai de um garanhão daqueles que emprenham as potrancas na primeira rodada.
Agüentou no osso do peito e ligou para o filho. Ou seja, fez plantão na Telefônica que, naqueles tempos de “a telefônica é nossa”, fazia com que um interurbano, além de ter de esperar “que a hora dos bancos terminasse”, ainda demorava umas 4 horas para completar a ligação se não houvesse caído um poste lá prá Dilermando do Aguiar.
Prá sua sorte pegou o filho na casa do sogro.
-Fulano, te senta, prá não dá de bunda no chão! A L.... está grávida e estão dizendo que é de ti.
-Só se for de outro, porque naquele prédio eu só entrava pela porta da cuzinha. Nunca entrei pela porta da frente. Não tinha chave.
E por aí se encerrou o diálogo.
Volta o pai para falar com o outro pai.
Este, querendo matar todo mundo, conta prá mulher.
-E vou pra estância porque se eu fico por aqui vou fazê um estrupício.
Como se sabe, homem é muito valente para enfrentar certas situações.
A mãe, se junta a madrinha, a uma irmã mais velha, e a filha mais velha, para discutirem o que iriam fazer.
Resolveram que iriam dizer que “naquela ida prá campanha, no dia aquele do temporal, o rapaz (O dito namorado), chegara todo encharcado em casa e se enxugara numa toalha. Que a gentil donzela, sem se dar conta, havia usado a mesma toalha, logo enseguidinha e, não se sabe como, algo devia ter escapado das partes do rapaz, e ela então engravidara.”
Descoberta esta magnífica fórmula, encarregaram a irmã mais velha de dar a notícia à futura mamãe, que estava acompanhada pela irmã do meio. Esta já fora informada pela gestante de como as coisas de fato ocorreram e com quem. Como já estudara algumas leis genéticas, ao ouvir a história que seria divulgada, riu.
-Vão explicar que a filha, filho, de um cara que tem olho verde, cabelo liso e loiro, com uma mulher que tem olho azul, cabelo liso e aloirado, vai sair com olho castanho, cabelo preto e crespo? Vão inventar outra história!
Como imaginação nunca faltou às mulheres dos pampas, mudou-se a história para torna-la mais verossímil.
Fora na piscina. O filho do zelador, que era bem afro-descendente, de sacanagem ejaculara numa toalha e a gentil donzela, distraidamente, passara-a na genitália ao secar-se.
O resto vocês podem imaginar.
O problema era a maledicência das pessoas, sempre em busca de um pecado, de uma sacanagem, apenas para denegrir a imagem dos puros.
Discutia-se se a criança teria o apelido de Artex, ou o sobrenome patronímico de Buddemeyer, que, cá prá nós, seria bem mais chic. Se bem que os mais bagaceiros já falavam no “Toalhinha”!

4 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

*



já pensou se a toalha fosse daquela famoso magazine daqui do sul?

além de grávida, iam dizer que era da Rainha das Noivas.
daí, sim, o bicho ia pegar.



*

Maroto disse...

até hoje minha mãe me enche o saco porque eu debochei na cara da vizinha que teve um filho depois de sete anos viúva e disse que era do falecido, cujo espermatozóide tinha ficado guardado no útero, latente (tá, latente ela não disse, a palavra é minha. Dessas e outras vem minha fama de não ter senso de sociabilidade

Carlos Eduardo Carrion disse...

Maroto - Viu como é duro ser verdadeira?
Por isto é que eu às vezes minto.

Maroto disse...

esse gosto quase perverso em dizer a verdade é uma das maldições que a bruxa malvada rogou em mim quando eu nasci