domingo, 27 de abril de 2008

DIFERENÇAS DE RITMO

Um problema que freqüentemente vejo no consultório e é de solução complicada, quando chega a ser possível, é o das diferenças de sexuais de ritmo, ou variabilidade, ou ambas.
João transava, antes de conhecer Maria, umas quatro vezes por semana. E ficava querendo mais. Muitos de seus encontros eram só para sexo e, muitas vezes, com mulheres que só conheceria uma vez.
Nos dois namoros que teve, Maria transava uma vez a cada dez dias, se tanto. Com o que se sentia satisfeita.
Quando transava, João sempre tentava dar duas, três, quatro vezes.
Maria ficava numa só. Mas, para ela, era muito importante o antes. Namoro, arretos, preliminares e a transada em si. Tudo bem degustado. No seu timing.
Mas um dia João e Maria se conheceram. Seja por estar escrito nas estrelas, seja por que o Destino assim o desejava, se apaixonaram.
E, no início, tudo foi festa.
Transadas freqüentes, elaboradas, demoradas e os dois achando tudo ótimo.
João porque estava amando e tudo que vinha da amada lhe parecia maravilhoso. E porque estava aprendendo um novo jeito de transar.
Maria porque estava amando e tudo que vinha do amado lhe parecia maravilhoso. E porque transando ficava mais perto dele, recebia carinhos mais intensos, ouvia declarações de amor mais candentes.
Mas, como soe ocorrer com os que não tem criatividade, com os que costumam pensar que o seu jeito é o certo, aquela rotina começou a cansar.
João começou a fatigar-se de ter de fazer os jogos de sedução, enlevo, romance para acabar tendo uma boa transa. Começou a não fazer todos aqueles rituais, que tem de ser mutantes e variáveis.
Maria, com a perda das sensações de novidade na cama, voltou-se para as outras novidades da vida. Os atos sexuais, propriamente ditos, viraram rotina. Mais tarde uma rotina penosa. Finalmente algo tão sensacional como terminar de jantar, depois de um dia fatigante e ter de lavar e secar a louça, além de por em ordem a cozinha e fazer a mesa para o café da manhã.
João e Maria passaram a ter atritos, brigas, a acusarem-se mutuamente disto e daquilo.
Finalmente veio um período de paz. Mas era a calmaria que antecede as tempestades. Algo só aparente. Os que têm sensibilidade percebem as forças da natureza incubando a tormenta.
João descobriu primeiro as garotas de programa. Depois uma colega de trabalho que o achava o máximo, que o queria para si com exclusividade. Que dava direto. Ponto!
Maria percebeu um vizinho que a olhava com olho comprido. Que puxou conversa. Que a ouviu. Que lhe falou como ela era maravilhosa. Um dia aconteceu. E foi aquela loucura.
Não sei quem desmontou o jogo.
Mas João foi viver com a colega.
Maria foi viver com o vizinho.
Infelizmente cinco anos depois a história se repetiu. Para os dois.
João e Maria não sabiam escolher. Ainda acreditavam que o Amor tudo pode. Esqueciam-se que nós não mandamos no Amor.
João e Maria não sabiam se adaptar neste campo. O das diferenças. Pois aqui não adianta o bom senso, o meio termo, o cada um cede um pouco. Nenhum pode mudar tão radicalmente o seu Eu.
Neste campo reina absoluta a capacidade, ou não, de se adaptar. Da capacidade de ser criativo. Do como manter o seu Eu íntegro em um ambiente hostil.
As psicoterapias ajudam muito neste campo. Mas se a pessoa não se dispuser a sair do seu castelo de certezas e regras, será dinheiro posto fora.
PS – Nesta história, onde se lê João pode-se ler Maria e vice-versa.

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