Uma das coisas que sempre me fascinou foram fragmentos de diálogos que eu escutava aqui e ali.
“Aí eu disse: Mas que absurdo!”
E lá vou eu a pensar no que teria acontecido antes do absurdo. O que é que era o absurdo. O que a pessoa fez a partir do tal absurdo.
São várias as histórias possíveis.
As primeiras versões imaginadas são sobre sexo, dinheiro, traições. Mas estas me parecem demasiado óbvias. Por isto me pego, freqüentemente, imaginando situações bizarras.
Mas outro dia teve um destes diálogos que me fez pensar em como os tempos mudaram desde a minha adolescência.
Pacatamente estava eu à fila de pagamento do supermercado, quando ouvi uma moiçola dos seus 16/18 anos, dizer ao que me pareceu ser seu namorado.
“Imagina o meu pânico, eu não tinha tomado a pílula naquele dia, me acordo ao lado de um cara que eu não conheço. Fui voando na minha ginecologista que até achou graça. Só por eu não ter tomado a pílula aquele dia era muito difícil de eu estar grávida. Quando eu contei então para ela, que provavelmente só tinha usado a porta de trás. Ela se riu ainda mais.”
Aí chegou, para meu desgosto, a hora de eu ter de me preocupar com as minhas compras e, a contragosto, tive de me afastar um pouco mais e deixar de prestar a atenção.
Deu para ver que os dois estavam rindo das peripécias erótico sexuais da ninfeta.
Fiquei a matutar sobre os meus tempos de adolescência, lá por meados dos anos 60, em Livramento, quando se tinham dúvidas em beijar na boca uma guria que já houvesse beijado outro cara na boca. "Tá lôco beijar homem por tabela!!!"
Fiquei a pensar. Quantas oportunidades de aproveitar a vida, sentir prazer, ser feliz, foram perdidas por conta de preconceitos!?
Enquanto vinha para casa um outro pensamento me assaltou. Quantas coisas boas eu estaria, ainda, perdendo da vida por preconceitos, por conta de morais que, provavelmente, ao ler escritas, eu rejeitaria?
Um comentário:
Tuas reflexões ao final do texto muitas vezes já me assaltaram. Busquei, durante o curso da minha vida, não me atrelar ou me deixar atrelar aos e pelos preconceitos. Para alguns grupos da sociedade, com certeza, não fui o melhor exemplo, diante das suas concepções do certo e do errado.
Mas, mesmo assim, e eu também, fiz e faço parte da sociedade e de um grupo onde existente, também, o certo e o errado. Via com naturalidade, então, dentro do contexto de vida onde inserida, o estabelecimento do certo e do errado, sem contestar...É interessante isto, pois a ausência da contestação não o era, hoje sei, pela imposição do que era certo e errado, mas por falta de curiosidade, comodismo. Com a maturidade e com a exigência natural de se buscar os " porquês", concluí, mas não tardiamente, para algumas coisas, que perdi, sim, alguma coisa mais bela e mais intensa da vida...
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