Se há um tipo de sujeito que consegue me incomodar é aquele que usa o sangue, o trabalho, ou os sacrifícios dos outros, sem se dispor a nenhuma contrapartida.
Pois um destes homúnculos destes estava à mesa, junto com alguns amigos meus, há alguns dias.
Conversávamos sobre o Brasil, sobre a atual situação, sobre a violência, sobre a pobreza, quando este analistadebundachatadeescrivania foi peremptória na sua afirmação.
“Este país não muda enquanto não houver um banho de sangue!”
Tentei ponderar qualquer coisa mas ele foi categórico, enfático.
“Sem sangue não se chega a lugar algum!”
No primeiro momento pensei: “Este bosta não sabe o que é sangue. E nem o que ele custa.”
Mas, em vez de ficar silente, como o bom senso me manda ficar frente a tal classe de energúmenos, resolvi, já que ele dissera isto com um certo acento sádico, usar um pouco do meu sadismo que andava bem enferrujado.
“Tchê, tu tens familiaridade com sangue?”
Antes que respondesse fui adiante.
Aproveitei que estávamos num restaurante. Que ele havia pedido a sua carne bem passada. Que o meu filé estava bem mal passado. Passei a faca na minha carne de maneira a deixa-la com o cru e o sangue bem a vista.
Garfiei-a e levei-a para mais próximo do seu rosto.
“Isto é carne e sangue. Numa revolução sangrenta tem bastante carne e sangue. Que os carneados são tanto do teu lado como do outro bando. Que esta carne poderia ser a tua. Poderia ser a da M....(sua esposa), ou da S......(sua filha). Num banho de sangue ninguém está livre... Nos banhos de sangue se perdem logo os limites. Te lembras do Um chien Andaluz? Da faca cortando um olho humano; de uma moça ainda viva? Que este olho poderia ser do F.....(seu filho)?”
Observei no seu rosto o estupor, a raiva contida, mas também o medo e a sensação de nojo.
Aproveitei e continuei. “Mesmo o lado que ganha tem seus mortos. Só que a gente sempre os imagina anônimos. Mas eles podem ser muito mais próximos do que se poderia imaginar.”
Na revolução espanhola os republicanos muitas vezes, quando pegavam um fascista, enforcavam-no, mas não sem antes deixar as tripas do tipo de fora.” “Já os fascistas, não tinham nenhum problema de pegar um comunista/socialista e estrangulá-lo lentamente e, enquanto o sujeito estrebuchava, tocavam gasolina em suas pernas e punham fogo.” “Já imaginou isto acontecendo contigo?” “Ou pegarem o teu pai e a tua mãe, colocarem-nos em uma igreja e depois, trancando todas as saídas, põe-lhe fogo?” “Nos banhos de sangue não se respeita nada, nem ninguém”
“Ou tu acha que depois da primeira barbaridade o outro lado não vai responder com barbaridades?”
“Mais ainda. Mesmos os vencedores vão se entredevorar na disputa pelos despojos.” Não foi isto que a gente viu em tudo quanto foi revolução?” “E dê-le sangue!!”
Ele tentou ainda argumentar de que era assim mesmo. Que se tinha de estar preparado para tudo. Mas seu desconforto era visível, palpável.
“Tu já caçou?” “Eu já!” “Sabe por que eu parei?” “Por causa do desespero do bicho para escapar.” “Dos gritos de dor.” “Da respiração estertorante que custava para parar e que era insuficiente.”
“Para de respirar um minuto e tu já vai ver que é horrível a sensação” “Tu sabes que na maior parte das vezes se sente falta de ar antes de morrer?”
“E a dor?" “E a dor que não passa?” “Os banhos de sangue têm sempre muita dor.” “Pensou a tua filha com esta dor?” “A dor de uma faca que entra entre as costelas e que depois o cara faz girar e sente o crugir do aço contra o osso, só de mau?”
Acho que, nesta hora, se ele pudesse, me dava uma bofetada, mas ele não podia fazer isto. Ele era um intelectual.
Observei que os outros o olhavam com um ar divertido, quase sádico, ou me olhavam com um olhar de reprovação.
Mas, como já disse, aquele dia eu estava mais era querendo ver o circo pegar fogo. Sádico, sádico e meio.
E continuei, falando do cheiro de pus, da morte, da podridão, da sujeira, dos corpos mutilados, dos pedaços de corpos achados aqui e ali nas posições esdrúxulas, bizarras da morte; da água contaminada, mal cheirosa; da fome, da fome que faz um sujeito comer qualquer coisa, mesmo que estragada, das moscas, dos ratos, enfim, de todo o cortejo que acompanha os banhos de sangue.
Não espero que ele vá desistir do seu banho de sangue purificador, criador de uma Nova Era, mas, certamente, vai passar a existir uma nuvenzinha no céu imaculado que ele criara para a sua revolução.
Pois um destes homúnculos destes estava à mesa, junto com alguns amigos meus, há alguns dias.
Conversávamos sobre o Brasil, sobre a atual situação, sobre a violência, sobre a pobreza, quando este analistadebundachatadeescrivania foi peremptória na sua afirmação.
“Este país não muda enquanto não houver um banho de sangue!”
Tentei ponderar qualquer coisa mas ele foi categórico, enfático.
“Sem sangue não se chega a lugar algum!”
No primeiro momento pensei: “Este bosta não sabe o que é sangue. E nem o que ele custa.”
Mas, em vez de ficar silente, como o bom senso me manda ficar frente a tal classe de energúmenos, resolvi, já que ele dissera isto com um certo acento sádico, usar um pouco do meu sadismo que andava bem enferrujado.
“Tchê, tu tens familiaridade com sangue?”
Antes que respondesse fui adiante.
Aproveitei que estávamos num restaurante. Que ele havia pedido a sua carne bem passada. Que o meu filé estava bem mal passado. Passei a faca na minha carne de maneira a deixa-la com o cru e o sangue bem a vista.
Garfiei-a e levei-a para mais próximo do seu rosto.
“Isto é carne e sangue. Numa revolução sangrenta tem bastante carne e sangue. Que os carneados são tanto do teu lado como do outro bando. Que esta carne poderia ser a tua. Poderia ser a da M....(sua esposa), ou da S......(sua filha). Num banho de sangue ninguém está livre... Nos banhos de sangue se perdem logo os limites. Te lembras do Um chien Andaluz? Da faca cortando um olho humano; de uma moça ainda viva? Que este olho poderia ser do F.....(seu filho)?”
Observei no seu rosto o estupor, a raiva contida, mas também o medo e a sensação de nojo.
Aproveitei e continuei. “Mesmo o lado que ganha tem seus mortos. Só que a gente sempre os imagina anônimos. Mas eles podem ser muito mais próximos do que se poderia imaginar.”
Na revolução espanhola os republicanos muitas vezes, quando pegavam um fascista, enforcavam-no, mas não sem antes deixar as tripas do tipo de fora.” “Já os fascistas, não tinham nenhum problema de pegar um comunista/socialista e estrangulá-lo lentamente e, enquanto o sujeito estrebuchava, tocavam gasolina em suas pernas e punham fogo.” “Já imaginou isto acontecendo contigo?” “Ou pegarem o teu pai e a tua mãe, colocarem-nos em uma igreja e depois, trancando todas as saídas, põe-lhe fogo?” “Nos banhos de sangue não se respeita nada, nem ninguém”
“Ou tu acha que depois da primeira barbaridade o outro lado não vai responder com barbaridades?”
“Mais ainda. Mesmos os vencedores vão se entredevorar na disputa pelos despojos.” Não foi isto que a gente viu em tudo quanto foi revolução?” “E dê-le sangue!!”
Ele tentou ainda argumentar de que era assim mesmo. Que se tinha de estar preparado para tudo. Mas seu desconforto era visível, palpável.
“Tu já caçou?” “Eu já!” “Sabe por que eu parei?” “Por causa do desespero do bicho para escapar.” “Dos gritos de dor.” “Da respiração estertorante que custava para parar e que era insuficiente.”
“Para de respirar um minuto e tu já vai ver que é horrível a sensação” “Tu sabes que na maior parte das vezes se sente falta de ar antes de morrer?”
“E a dor?" “E a dor que não passa?” “Os banhos de sangue têm sempre muita dor.” “Pensou a tua filha com esta dor?” “A dor de uma faca que entra entre as costelas e que depois o cara faz girar e sente o crugir do aço contra o osso, só de mau?”
Acho que, nesta hora, se ele pudesse, me dava uma bofetada, mas ele não podia fazer isto. Ele era um intelectual.
Observei que os outros o olhavam com um ar divertido, quase sádico, ou me olhavam com um olhar de reprovação.
Mas, como já disse, aquele dia eu estava mais era querendo ver o circo pegar fogo. Sádico, sádico e meio.
E continuei, falando do cheiro de pus, da morte, da podridão, da sujeira, dos corpos mutilados, dos pedaços de corpos achados aqui e ali nas posições esdrúxulas, bizarras da morte; da água contaminada, mal cheirosa; da fome, da fome que faz um sujeito comer qualquer coisa, mesmo que estragada, das moscas, dos ratos, enfim, de todo o cortejo que acompanha os banhos de sangue.
Não espero que ele vá desistir do seu banho de sangue purificador, criador de uma Nova Era, mas, certamente, vai passar a existir uma nuvenzinha no céu imaculado que ele criara para a sua revolução.
2 comentários:
o que mais me irrita nesses tipos é que se o tal banho de sangue começa mesmo, são os primeiros a embarcar pra bem longe. Se não houver como, se escondem embaixo da mesa. Se não houver como, dão a mãe para poupar a própria pele.
Nossa barbaridade sangrenta, "vampiresca" foi um tanto suspensa a partir da última grande guerra, devido a genética, o seu desenvolvimento promovido, muito por experiências macabras e inteiramente amorais. O melhor resultado disso, "pasmen" a melhora significativa do seu controle e consecutivo afastamento da fome no mundo. Dai a idéia circunstancial de que a guerra, "banho de sangue" para alguns, permanece viva. Nosso país chegou aqui sem ela e assim deve permanecer e vencer. Nosso grande novo problema é a contenção e não a expansão tanto propalada e definitiva para a destruição total do planeta.
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