terça-feira, 24 de abril de 2007

O SUICÍDIO II

A idéia de SUICÍDIO como pecado era útil. O indivíduo era ameaçado com um castigo que ele não poderia avaliar. Portanto, só lhe restava como alternativa submeter-se àqueles que ditavam as normas, religiosas e morais. Não esqueçamos que o poder, dito temporal, era exercido por aqueles tidos como semi-deuses, ou representantes dos deuses, ou por estes designados.
Mas, em alguns momentos, o suicídio era necessário para os donos do poder. Portanto, cabia aqui a criação de exceções. Heróis, como Sansão. Mártires, como símbolos de um poder a ser exaltado. Deixemos claro que, quando o sujeito se matava CONTRA O PODER, caber-lhe-ia a designação de louco, fanático, endemoniado, etc. e tal. Como tal seria castigado e, para reforçar a proibição, sua família também.
A perda de força das religiões, ou da própria noção de Deus, trouxe a necessidade de novas idéias para o controle do poder do indivíduo sobre a própria existência. Através da Medicina surge a idéia do SUICÍDIO como DOENÇA.
O SUICIDA teria de carregar o estigma de doente. Sua família carregaria o peso de ter alguém irremediavel e gravemente enfermo. Mas, mesmo com estas restrições, tinha-se de criar exceções. O suicida poderia ser útil para uma ideologia, por exemplo. Surgiam situações vivenciais em que o matar-se encontrava uma justificativa lógica. Situações de sofrimento imenso, sem perspectivas de melhora, a não ser por magia.
As ideologias e as morais passaram a exigir que em alguns momentos se aceitasse um suicídio como algo digno, necessário, inevitável até. Chegou-se quase a criar regras a este respeito.
Não estou aqui a levantar a idéia de que um suicídio seja algo sadio. Apenas acho que temos agora que entender que nem sempre uma morte auto-infringida é uma prova de doença mental.
As vezes é apenas uma opção pobre de quem praticamente não tem outras opções.

Um comentário:

Anônimo disse...

A condição humana assenta numa base excelente: ninguém é desgraçado senão por sua própria culpa. A vida agrada-te? Então, vive! Não te agrada? És livre de regressar ao lugar da onde vieste!
É preferível o suicídio mais imundo á mais higiênica servidão!(os servos de Deus)
Parabéns hedonista, como sempre: brilhante. Abraço do Eclético.