quarta-feira, 4 de abril de 2007

Ainda o Henry Sobel

Este artigo não é meu. Mas está muito bem escrito e reflete muito o que eu penso sobre o assunto.
Além do que o Paulo é uma figura fantástica que tem de ser mais conhecida.

SOBEL
Paulo Wainberg
Advogado e Escritor


SE forem verdadeiras as acusações contra Sobel, de furto de gravatas nos Estados Unidos, cabe à Comunidade uma reflexão sobre o Homem, sua natureza, qualidades e defeitos.
Sobel é um Rabino, portanto sem ares divinatórios, poderes sobre o Bem e o Mal, nem mais nem menos um Homem.
Sob essa condição humana inseriu-se na sociedade brasileira com tamanha qualidade que tornou-se um orgulho brasileiro em geral e judaico em particular.
Homem de vanguarda, tomou a linha de frente em todas as questões fundamentais, é um defensor intransigente da Ética, da liberdade, do respeito à lei, tornou-se um “ser público” através de suas manifestações em defesa dos direitos humanos e contra as desigualdades sociais.
Homem de refinada cultura, vale-se de seus conhecimentos profundos sobre religião e filosofia, além de aguçada inteligência, para marcar posições definidas sobre as questões humanas que extrapolam os limites do judaísmo e sua comunidade e que, em sua universalidade, contribuem para o crescimento individual e coletivo, o auto-conhecimento e uma melhor compreensão sobre as qualidades próprias da existência.
O lado privado deste “ser público” foi subitamente fulminado por uma suposta conduta criminosa que, em tese, contradiz a totalidade da trajetória do Rabino Sobel.
Como pode este homem que tanto lutou pela decência e pela ética, ser um ladrão de lojas?
Com que autoridade vinha ele nos falar em Justiça, em igualdade, em espírito da lei humana e divina, não passando ele mesmo de um reles ladrãozinho de gravatas?
A perplexidade que nos acometeu, judeus e não judeus, procede, tem fundamento, mais uma vez nossa crença na virtude humana foi e está sendo profundamente abalada.
A questão é: vamos resolver nosso impacto pessoal e coletivo pelo meio mais fácil ou optaremos pelo caminho da reflexão e da real gradação dos valores?
Porque o meio mais fácil consiste na execração de Sobel, consiste em deixar fluir nossa indignação, ou inveja, ou rancor, ou cinismo ou, com certeza, hipocrisia. É fácil dizer que Sobel nos traiu, enganou a todos que nele confiaram, que fomos iludidos durante 35 anos por um individuo de caráter duvidoso, cheio de defeitos e idiossincrasias que, por todo esse tempo, falou em nosso nome e expressou nossas principais angústias.
Ou então – e esse me parecer o caminho mais justo – vamos compreender que Sobel, pela obra que já produziu, é muito maior do que o episódio aparentemente sórdido em que se envolveu, a revelar uma fraqueza tão humana que só os seres humanos possuem.
Creio, sem jamais ter visto Sobel pessoalmente mas acompanhando sua trajetória naquilo em que ela foi pública, que a condição humanista do Rabino Sobel vai além dos limites da sua mera humanidade, supera de longe o equívoco que teria praticado, levado por irresistível compulsão gerada por doença psíquica.
O Humanista transcende o Humano. Ao Rabino Sobel devemos muito, é o que ele fez que entrará para a História. Ao Sobel, devemos respeito, compreensão e ajuda.

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