domingo, 29 de abril de 2007

A MINHA MACONDO

Muitos já leram Cem Anos de Solidão, do Garcia Marques. Muitos mais ouviram falar de Macondo, a cidade onde se desenrola o romance. É uma cidade que não existe, mas, pela força de Garcia Marques, passa a existir. Então, graças a isto, sabemos onde ficava a Igreja, a Prefeitura, a casa do coronel Aureliano Buendia; que a cidade tinha gerador próprio, que tinha tais lojas de comércio e assim por diante.
Eu nasci e me criei em Sant'Anna do Livramento; saí de lá aos 17 anos de idade para vir estudar em Porto Alegre. Desde então tenho vivido aqui.
Um dia destes estava eu, e alguns amigos lá de Livramento, aqui em Porto Alegre, a falar de tempos passados.
Abordamos o fato, idéia, sensação de que, apesar de vivermos em Porto Alegre há mais de trinta anos, no mínimo, não nos sentíamos identificados com esta cidade. Nos limitávamos a morar aqui. Embora ninguém pretendesse se mudar, ninguém tivesse um lugar dos sonhos para morar, nenhum de nós confessou um amor especial para com Porto Alegre. Mantemos, digamos assim, uma relação amigável e de respeito.
Por outro lado, cada vez que íamos a Livramento, voltávamos de lá com o coração confrangido pela sensação de decadência que a cidade, como toda a região do pampa, exala. Esta Livramento que visitamos ocasionalmente lembra muito a Livramento que guardamos dentro de nós. Mas, decididamente, não é a mesma.
Passamos a nos dar conta que somos apátridas. Que a nossa Cidade existe só na nossa memória. Que não existe a nossa Cidade Natal real. Que construímos uma Macondo dentro de nós.
A NOSSA MACONDO! Que esta é a nossa Cidade Natal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sutil, sofisticada mesmo a comparação MacondoXLivramento. Compartilho com vcs o sentimento de sensação de decadência, vou mais longe: melâncolia. Uma pena mesmo, mas é inexorável,nascer, crescer, amadurecer, decair e morrer. Em relação à retirada de Livto, procedo como os velhos romanos, fui embora porque os bárbaros chegaram ! O Eclético