segunda-feira, 2 de julho de 2007

Mais uma do nosso Herói de adolescência

Como não pararam de chegar cartas com outras histórias do E., me vejo obrigado a publicar pelo menos uma delas.
Bueno, corria o início dos anos 70, ditadura, etc. e tal, mas E. não se metia em política. E nem tirava proveito dela. Era daqueles que dizia “no pido y ni doy arreglo”. Trabalhava de sol a sol e ia ficando cada vez mais rico.
E, sabem como é, fama de rico, de veado e de corno não se tira mais. Com isto muita gente, quando precisava de dinheiro, vinha falar com o gaudério.
Não que ele fosse um benemérito, nem dado a piedades cristãs. Costumava dizer “eu cuido das minhas coisas aqui e o hôme véio das dele lá”. Mas também não era um prevalecido. Acreditava que negócio bom tinha que ser pros dois lados. “Já não me bastasse os olho grande, ainda vou querê gente querendo o meu pelego por eu ter me aproveitado”?
Pois estava lá ele, numa das fazendas, apartando um gado, de manhã cedito, junto da peonada, “prá dá exemplo”, quando chegou um vizinho com o ar abichornado de cachorro que levou uma sumanta de pau.
“Seu E. me surgiu um imprevisto dum dinheiro na justiça e eu tenho que pagá até as duas da tarde. O senhor não me compra uma ponta de gado? Umas 30 vaquilhonhas, todas com cria ao pé? O Sr. conhece o gado, é aquele que fica junto da pontecita do arroio do Salso.”
E. deu uma pensada, viu que o preço era bom e disse.
“Bueno, vamo vê se eu consigo este dinheiro agora de manhã, pois me pego desprivinido.”
“Mas não se esqueça que tem de sê até as 2!”
Lá se vai o E., como um balaço, até a cidade mais próxima, entra na agência do Banrisul, que estalava de nova, e vai ao gerente, que era novo.
“Tchê, me consegue quarenta contos de réis (Já era tempo do cruzeiro, mas não se tinha ainda perdido a mania de falar em mil réis.), mas tem que sê em dinheiro e ligerito.”
O gerente, que era novo, ficou assustado, pois E. não mostrara nenhum documento, nem talão de cheque, mas tinha uma pinta que não deixava dúvidas de que tinha bala na agulha. Dera o seu nome, que já deveria bastar.
“O senhor não me leve a mal, mas pra isto eu tenho que conversar com a matriz no Alegrete.”
“Bueno, conversa, mas não me faz perder tempo que eu tenho que tá em Livramento antes das quatro.”
O gerentezinho vai ao telefone, liga para a matriz, fala com o ex-gerente que era quem lhet inha colocado ali, e explica que o Sr. E, chegara assim e assado, e que queria este empréstimo antes do meio dia.
O antigo gerente pergunta:
“Este E. não veio numa camioneta Chevrolet, bem novinha, mas tapada de barro?”
“Sim senhor!”
“Ele não está vestido de jaqueta de couro, das boas, mas mal cuidada, e de bota de cano alto, toda suja?”
“Sim senhor!”
“Ele não tem pinta de homem fino, que sabe mandar?”
“Sim senhor!”
“Pois então entrega a chave do cofre pra ele, porque isto que ele pediu pra ele é trocado. O dinheiro que ele tem no Banco é tanto que esta tua agência só foi aberta pela quantidade de negócios que ele faz nesta zona”.
Meia hora depois já estava de volta o nosso herói com o dinheiro da ponta de gado, que serviu pro compadre se acertar com a Justiça. Sem mostrar documento nenhum!
























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