segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A GLASNOST E NÓS


A Glasnost não terminou com o Império Soviético. Ela apenas e tão somente mostrou que a URSS estava morta e apodrecida. Nós, na época, não enxergávamos isto, e muitos ainda se aproveitavam da idéia de que ela estava viva e pujante.
Agora, com o caos aéreo, com o acidente do avião da TAM, é comum ouvir frases como “manter sigilo” para preservar não sei o que.
A menos que me expliquem, e muito bem; a única coisa que se preservaria neste caso seriam algumas maracutaias, que se manteriam à sombra, beneficiando os vivaldinos de sempre.
As conversas e os sons das caixas pretas são horripilantes? São! Mas precisamos que estes sons, chocantes, terríficos, sejam ouvidos para que nos demos conta de que algo tem de ser feito nestas Terras brasilis.
Já usamos muitas peneiras para tapar o sol. Já acomodamos muitas coisas com medo “do pior”, para não chocar, para não sermos mal interpretados. O resultado é este que contemplamos.
A alguém agrada o que contemplamos? Se a alguém agrada, me avise e me ponha de parceiro, porque esta boquinha deve ser boa. Como diria o Barão de Itararé. “Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados!”
Uma vez, sei lá por que, me convidaram para uma reunião onde se discutiria a propaganda antitabagista na televisão.
A minha tese é que tinha de se apresentar o que o cigarro fazia de mal, as veras.
Minha tese foi derrotada. As cenas seriam muito chocantes. Iriam traumatizar, horrorizar as pessoas. Queriam apenas dizer que o fumo faz mal a saúde. Que as pessoas entenderiam e parariam de fumar. Eu duvidava desta tese. Acredito que, com exceção de alguns poucos afortunados, que aprendem unicamente pela lógica, a grande maioria dos seres humanos precisam de uma porrada de realidade para aceitar que a vida não é como idealizada.
Muitos precisam do impacto de uma imagem, de uma cena de dor, de uma ameaça concreta, para se decidirem a tomar uma atitude que sempre implica em sofrimentos, privações, para se chegar ao objetivo final.
Poupar a população de detalhes só servirá para anestesia-la, desmobilizando-a, o que facilitará o caminho das hienas e chacais ao anonimato, que tanto os beneficia.
À exceção de em algumas investigações policiais, invenções, negócios, política exterior (não são anjos os além fronteiras) e atividade militar, não consigo imaginar situações em que segredos possam beneficiar outros que não os escroques.
Crie-se um espaço de sombra e é para lá que irão as criaturas das trevas.
Que fiquemos chocados, traumatizados, revoltados. Mas que conheçamos a verdade. Talvez assim, e só assim, vamos sair do nosso comodismo para enfrentar os incômodos de mudanças que se fazem necessárias.

Um comentário:

Marcia disse...

concordo. sou contra negar e esconder informação. quem faz isso, usando a desculpa de que "os outros" não estão preparados para receber informação, geralmente tem interesse de que "os outros" se mantenham na ignorância.

a vida é dura, complexa e as pessoas são imperfeitas. o poder corrompe, deforma e deslumbra. e eu prefiro saber o máximo possível, para saber o que fazer, dentro do que posso fazer.