domingo, 11 de março de 2007

Filosofia ou Psicanálise

Quero discorrer sobre duas noções que interferem, decisivamente, no encaminhamento de uma vida melhor.
A idéia de CULPA (não falo da culpa na sua forma jurídica ou religiosa) e de seu filhote, o ARREPENDIMENTO.
Em primeiro lugar devo parabenizar aos inventores destas duas noções. Criaram um instrumento de poder fabuloso, tanto para quem se atira ou atira em outrem a idéia de CULPA. Estes inventos, que já tem alguns milênios, não só se mantém, como se ampliaram e sofisticaram durante seu desenvolvimento.
“-Meu avô morreu semana passada. Me sinto muito culpado por não haver estado com ele naquela hora e por não ter sentido nada na hora do velório. Ele foi muito bom comigo na minha infância” (frase de um paciente meu).
No momento em que esta pessoa sente-se culpada, ela pensa, sente, imagina, que tem o poder de antecipar fatos. Deveria saber que o avô morreria! Naquele dia e naquele horário! Talvez pudesse impedir que o avô morresse! O que o tornaria este progenitor eterno. Ou seja, não só saberia o futuro, como poderia dominá-lo.
Também imagina que poderia mandar em seus pensamentos, desejos, sentimentos.
Existem coisas que são nossas, como as supracitadas, mas, assim como nossa tensão arterial, ou movimentos peristálticos, não são comandados por nossa vontade.
Portanto, qualquer sensação de culpa é uma jogada nossa, ou da sociedade, para nos dar um poder que não temos. Com isto perdermos um pouco desta percepção terrível que é a de termos tão pouco poder, e controle, sobre a vida. MESMO QUE SEJA A NOSSA VIDA.
Mas não vamos, por outro lado, nos diminuirmos tanto. Temos algum poder e devemos usá-lo ao máximo. Não para mudar o Passado ou determinar o Futuro, mas para arrumarmos o nosso Presente, que é fruto de um Passado, e base para o Futuro.
Deste rebento da Culpa, o Arrependimento, podemos dizer as mesmas coisas.
Não temos de nos arrepender de nada. Tudo o que fizemos foi porque imaginamos, no momento da ação, que era o que melhor poderíamos fazer naquele momento. “Que dava para fazer.”
Se, mais tarde, a nossa ação se mostrar inadequada, prejudicial, temos de atribuir isto à incapacidade de dominar, controlar, o que virá depois desta coisa nevoenta que se chama Futuro.
As estatísticas sempre mostram possibilidades, não o que vai ocorrer. Portanto, viver baseado nelas pode ser extremamente enganador.

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