domingo, 12 de abril de 2009

QUERO SER CREMADO

Quero todos vocês por testemunha.
Quando eu morrer, se eu morrer, é lógico, sempre existem controvérsias a respeito deste assunto, QUERO SER CREMADO.
Fui a um velório outro dia.
Lá estava o defunto deitado no caixão.
Pálido, sério.
Ao redor sempre alguém comentando.
-Coitado, descansou! (Sabe lá alguém se alguém descansa depois de morto?)
-Olha só, como está bem, parece que vai acordar! (Imaginem a cena se o falecido levantasse do caixão.)
E por aí iam os comentários.
Isto para não falar numa mosca que insistia de confundir o nariz do “de cujos” com uma pista de aterrissagem.
Para piorar, precisaram abrir o túmulo da família, para abrir espaço para o novo inquilino. Como sou médico me pediram que eu acompanhasse os coveiros, para tomar alguma decisão em nome da família, “já que a cena poderia ser forte”. Cena forte, para mim, foi quando abriram o caixão do falecido há mais tempo e o coveiro, sem a menor cerimônia, ia pegando os ossos do cadáver e os ia jogando no caixão do ossuário como quem joga batatas num saco.
No cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, os caixões ficam à vista do público nos túmulos. Como alguns destes túmulos estão abandonados há muito tempo, com goteiras, sujeira, ervas, a cena é patética.
Sim, porque quando o cara passa desta para a melhor (?), no início todo mundo vai ao túmulo, depois vão uma ou duas vezes por ano e depois adeus tia Chica. Fica uma tapera.
Quero ser cremado!
Carrion, o ainda chocado.

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