terça-feira, 20 de maio de 2008

EU e ELE

Antes de tudo, aviso aos navegantes.
Se alguém pensa que este é um registro biográfico, ou auto biográfico, esqueça. Ele é baseado em anos de experiência, conversas, registro de fatos, que faço sem cumprir regras da ABNT, ou acadêmicas.
Não é por isto que ele vai ser menos verdadeiro. Talvez, até por isto, possa ser mais verdadeiro, de vez que, assim, a criatividade fica mais solta. Ela, deste modo, não precisa submeter-se a regras que afastem o relato de sua humanidade.
EU E ELE

Nossa relação vem de longos anos. A bem da verdade estávamos juntos já lá no útero. Dizem alguns, que já nesta fase nós nos relacionávamos. Não me lembro.
As primeiras lembranças vêm dos meus três, quatro, anos. Mais memórias sensoriais do que qualquer outra coisa. O que EU sei é que sempre tinha alguma tia chata que mandava nós pararmos de brincar. E, para evitar que nós voltássemos aos folguedos, ficavam fazendo aquelas brincadeiras idiotas que as tias fazem quando temos esta idade. Com exceção de uma que me levava a tomar sorvete de chocolate e Coca-Cola. Nesta hora EU dava uma de egoísta e deixava ELE a ver navios.
Depois, lá pelos 7/10 anos, nosso entendimento melhorou muito. Descobrimos como brincar, quando brincar. Às vezes Ele me surpreendia, me convidando para brincar nos momentos mais inesperados; às vezes até inadequados. Mas não posso me queixar dele. Sempre que EU o convidei para brincar ELE topava.
Dos 11 aos 14 anos, a nossa relação sofreu mais algumas modificações. Sempre que EU via determinadas coisas ELE se manifestava. Propunha jogos, brincadeiras, que nem sempre eram possíveis. Aliás, nesta época, ELE propunha tantas brincadeiras que chegava a se tornar inconveniente e EU tinha que, freqüentemente, dizer não a ELE.
Em compensação, neste período ELE me deu uma surpresa agradável que me pegou desprevenido. Uma noite, lá estávamos nós num vai e vem de prosa, quando ELE se comportou de uma maneira diferente, brincou de vulcãozinho. Foi tão boa a brincadeira que acabamos repetindo. Dali há algum tempo estávamos que nem o Hawai e o vulcão Kilauera.
Bom, a partir de então aquilo que era freqüente virou rotina. Foram criadas algumas variantes da brincadeira que só serviram para solidificar ainda mais os nossos laços de amizade, companheirismo e admiração. Principalmente da minha parte.
Já dos 14 aos 17 anos passamos por uma espécie de crise. ELE se tornara saliente demais. Queria estar sempre recebendo atenção. Não foram poucas às vezes em que se entesava tanto em suas convicções que se tornava incomodo. Para não dizer que causava dores com as suas intransigências.
Neste meio tempo surgiu mais um fator complicador que foi a presença das mulheres. Bastava ver uma que ELE já ficava todo eriçado, afoito, fogoso, reclamando da minha covardia, inércia. Para piorar as coisas, estas tais de mulheres, na época, não colaboravam muito para a estabilidade da relação entre EU e ELE.
Mas um dia, felizmente sempre tem um dia, em que se abriram as cortinas e as tais mulheres passaram a fazer parte de nossas vidas.
Isto foi ali pelos 18/24 anos. Neste período o único problema foi que ELE virou um consumista de marca maior. Sempre insaciável, criando muitas vezes problemas por conta das suas exigências, que, por descabidas, não podiam ser atendidas.
Dos 25 anos até meados dos 40 a relação foi tranqüila e satisfatória. Aprendêramos a nos conhecer e a respeitar necessidades e limites.
Só que, em meados dos 40, numa brincadeira de metralhadora com uma menina, pela primeira vez a metralhadora trancou após o 3º disparo. Foi preciso dar um tempo para que ela começasse a funcionar novamente. Mas estes engasgos na “machine gun” aos poucos foram se tornando mais freqüentes. No início dos 50, os engasgos passaram a ocorrer entre o 2º disparo e o 3º. Finalmente na entrada dos 60 os engasgos passaram a ocorrer entre o 1º e o 2º. A relação entre EU e ELE passou a apresentar alguns sinais de desgaste. EU não confiava mais plenamente n’ELE e ELE sentia-se pressionado por EU.
Mais para o final dos 60 surgiu o problema de que a caligrafia do ELE começou a piorar. Ficou mais sinuosa. Às vezes não dava para entender. Em algumas ocasiões deixou de fazer os temas de casa.
Felizmente, qual a cavalaria do exército americano, que chegava quando parecia que não havia mais salvação para os colonos cercados pelos cruéis índios (Visão Politicamente Incorreta.), ELE e EU fomos salvos pelas pílulas mágicas.
Agora, como cowboys, cavalgando rumo ao por do sol, EU e ELE vamos juntos até que a arteriosclerose ou o Alzheimer nos separe. Ou que a Velha Senhora nos junte para a Longa Jornada da qual ninguém retorna.




2 comentários:

Maroto disse...

mas aos 60 as mulheres já terão aprendido a tratá-lo como 'o senhor', com toda a reverência que ele merece!

Anônimo disse...

Minha relação com ELE sempre foi prazerosa. De tanto ter ouvido falar_desde guri_ sobre o medo de muitos, de que o ELE deles faltasse, aprendi a aceitá-lo como uma máquina e como tal sujeita a engasgos vez que outra. Essa aceitação talvez tenha sido o principal fator contribuinte para que ELE nunca me deixasse sozinho até hoje. Sou feliz com ELE, sem modéstia posso afirmar que o conheço intimamente, cada parte, COMO (e com) A PALMA DE MINHA MÃO.
Aos 45 anos levo ELE a divertir-se com a conquista da maturidade, sem ter que provar nada pra ninguém _como já escrevi, no meu caso ele nunca teve esse dever_ Então vamos por aí ás vezes monogamicamente cumprindo nosso papel com ELA, muitas outras solitariamente revivendo nossos tempos adolescentes e, sem medo de ser feliz e supreendido pela capacidade que ELE tem de se reinventar ainda que depois dos 40, vez que outra chamamos outro ELE para "bater bolas" juntos. Sem dúvidas é ELE é 10!