quarta-feira, 13 de abril de 2011

EU a VELHICE E A VIDA

“Sentia remorso de envelhecer” – De um trecho de Machado de Assis,

Esta frase me trouxe a mente uma lembrança do passado. Eu estava em Livramento, na fazenda de um amigo.

Caminhava sozinho a uma hora do por do Sol. O dia era luminoso, a temperatura era maravilhosa, e a paisagem, com suas sombras alongadas era esplendorosa.

Mas havia um quê de nostalgia no ar.

Já sabia onde este caminho iria dar. Daqui a pouco o Sol tocaria na fímbria do horizonte. As nuvens adquiririam um colorido ensandecido, e, assim que o Sol tivesse sido tragado pela terra escura, as lagoas e açudes se transformariam em lagos e açudes de luz, para depois, lentamente, esmaecerem até desaparecer.

Viria a noite. Pode que fosse uma noite de Lua cheia. Pode que o manto de estrelas trouxesse aquela luminosidade negra. Mas, no final, se não fosse naquele dia, seria em outro, o escuro predominaria.

É isto que eu penso do envelhecer hoje, quando o meu sol ainda está longe do horizonte, mas já passou das 17 horas.

No remorso tem um quê de culpa. Na nostalgia, um monte de saudades.

2 comentários:

Fonte disse...

Meu amigo, que maravilha ler este texto poético nesta fase de reflexões acerca da passagem cronológica. Abril é mês de níver, e com isso de olhar logo ali atrás, logo lá na frente, em torno e pra dentro. Esse último olhar é mais pro final do mês, depois que passa a "festa", e tenho tempo pra navegar internamente.
Tuas palavras, presenciais ou a distância sempre contribuem com meu aprendizado sobre isso que chamam de vida e que insistem em cronometrar...que cada minuto entre amigos(as) do bem, seja uma eternidade! ;-)

Paulo RSM disse...

E aí, beleza? cheguei aqui por acaso. Resolvi comentar. Li o texto e lembrei de uma frase de um filme que vi certa vez:
"comédia é igual a tragédia mais tempo"

acho boa a frase porque o remorso e a nostalgia são formas de lidar com o tempo...assim como a comédia também pode ser. Se envelhecer é uma evidência implacável do tempo, a comédia pode ser uma postura implacável diante do envelhecimento. Acabo de lembrar agora de um trecho de um poema do drummond...

(...)
E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
ditas antes com voz firme, os pensamentos
maduramente pensados, os atos
que atrás de si deixaram situações.
Que o riso sem boca não a aterrorize
e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
dedos torcidos, lívido
suor de remorso.

E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
(...)

Abs.