sexta-feira, 22 de abril de 2011

Espiritos retrógados





Nos idos da minha puberdade e adolescência corria a sorrelfa uma piadinha que atribuíamos a Câmara de Vereadores de Quaraí, só para implicar.
Dizíamos então que em uma sessão daquela câmara, um engenheiro explicava porque uma ponte no interior do município iria custar mais que do que estava prevista. Explicava que por conta da extensão do vão livre haveria necessidade de mais vigas.
Um dos vereadores o interrompe e pergunta? -Porque isto? -Por causa da lei da gravidade, respondeu o engenheiro. Um outro vereador, em tom de socapa, interrompe e diz: - Não têm problema, revoguemo esta lei! Mas recebe um cotovelaço discreto de um colega de bancada que lhe diz: -Cala a boca! Esta lei é do tempo do velho Getúlio. –Não se muda!
Eis um velho desejo do Homem. Ter coisas eternas, imutáveis... Parece que se isto ocorrer nos sentimos mais seguros.
Agora a assembléia legislativa aprova uma lei que, em nome da preservação do idioma, tenta que nos isolemos do mundo. Que não soframos mudanças.
Hitler tentou isto em outros campos. Deu no que deu. Mussolini aplicou isto no italiano, os franceses no francês. Resultado, estas línguas perderam proporcionalmente um número significativo de falantes que passaram a falar dialetos, cada vez mais distantes da língua mater.
A Espanha depois da descoberta da América tentou também se paralisar de um modo geral. Resultado, um país que estagnou. De um território muito maior do que possamos imaginar, foi perdendo partes como o corpo de um leproso.
Quem vai a Cuba descobre um país que dá educação e saúde básica a todos, ninguém passa fome, mas em compensação não pode mudar o seu modo de vida. Paralisados por conceitos idealísticos. Milhares, ou milhões, de cubanos fugiram do país.
A arte nos sistemas socialista-ditatoriais ficou paralisada pelo “Realismo Concreto”; o que ocorreu na Alemanha Nazista, sob a égide de “arte pura alemã”. Convém lembrar que o regime nazista era um regime nacional-socialista.
Agora um deputado, que leva o meu sobrenome, Carrion, tenta paralisar a história, fazendo um projeto de lei que foi aprovado por escassa maioria e que só depende de um acesso de bom senso do governador, que pode vetar a lei, para que não se tenha uma paralisação da língua.
Ao retirar a possibilidade de se usar, também, palavras de outras línguas, se entorpece a evolução da linguagem. A ser assim estaríamos falando em Aramaico, ou Latim, ou numa protolinguagem indo-ariana, ou africana.
Mas entendo o nobre deputado. Ele vem do Partido Comunista do Brasil, um partido que vem do Partido Comunista, da falecida e quase não pranteada, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, na qual um dos ícones master foi Stalin. Um homem responsável pela morte de vinte a trinta milhões (Cinco milhões segundo uma dirigente do PC do B com quem conversei uma vez num programa do Lauro Quadros, na rádio Gaúcha de Porto Alegre, num dos intervalos, uma pechincha senhores.) de compatriotas, mais do que Hitler conseguiu com a sua insanidade. Stalin, com exceção da área militar, paralisou seu país em décadas. Mas ele representa um ideal ainda para muitos. O Homem que decide o que é melhor para os outros, quer eles queiram, quer não. Um homem que viu o mundo mudar, ajudou até na mudança, mas não queria que a sua URSS evoluísse, a não ser, é bom frisar, na área militar.
Lembro de inúmeros grandes escritores nacionais. Reparem na quantidade de estrangeirismos que eles usam em seus trabalhos. Quem, no entanto, vai acusá-los de deturpar o vernáculo. Contribuiriam tanto eles para nossa literatura se se houvesse furtado a utilizar palavras alieníginas que só vieram enriquecer a Última Flor do Lácio? Que chamamos de Portuguesa. Nem Brasileira ela é.
Que faremos com as palavras das línguas indígenas, ou afro, ou dos imigrantes que aqui aportaram e fazem parte hoje desta Nação e foram incorporadas ao nosso blá-blá-blá do dia a dia?
Aliás, perguntei para um grande, e por mim respeitadíssimo, antropólogo, Mauro Cherobim, o que os índios fazem quando entram em contato com uma palavra que não existe em sua língua. Simplesmente eles a incorporam a sua linguagem. Portanto ninguém precisa inventar um termo para laptop, ou mouse, ou laser. Por exemplo.


Nenhum comentário: